PARECE QUE NÃO, MAS PEGA. 
ANA MARIA RIBAS,

Escrevo sob uma dor de média intensidade na região da cintura irradiando para os músculos intercostais. Ontem, Gisele me passou um exercício novo para a dita cuja cintura e me disse: - “Vai com cuidado, parece que não,  mas “pega”. Eu não acreditei que pegasse, estava moleza e fui com tudo. Resultado: paracetamol logo cedo e mais o efeito cascata sobre o estômago que não aceita analgésicos.
 
Mas isso é culpa da Milka. Milka é uma danada. Ela passa o dia limpando vidros, espelhos e aparelhos na academia, e tem um espírito sensível. Diariamente nossos espíritos conversam.  E Milka com esse espírito sensível ontem, me disse: “ Quando você entra aqui, entra uma energia boa. Você passa alegria, coragem, disposição.”
 
E depois ela me disse: “ olha disfarçadamente aí para o lado. Veja o desânimo.”
 
E não é que eu tinha acabado de ver exatamente a personificação do desânimo aos 20 anos de idade? Eu tinha pensado assim: “é por isso que as moças encalham e não casam.” E tinha pensado também assim: “e se eu fizesse uma palestra motivacional para moças desanimadas?” E ainda pensei mais assim: “eu colocaria a minha sandália Luz da Lua e colocaria aquela roupa tal e daria uma amassada no cabelo e faria a palestra na sala de casa. Minha palestra passaria por cuidados de estética, saúde e psicologia comportamental e obviamente sobre Deus que rege o universo.” E o versículo que eu leria seria este: “os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, caminham e não se cansam, correm e não se fatigam.” Isaías 40:31.
 
E aí me vem Milka e diz que me admira desde o ano de hum mil novecentos e bolinha, e que, para ela, eu era um exemplo de força, de entusiasmo e de alegria, e eu acreditei em tudo o que ela me descreveu sobre essa desconhecida que se chama Ana Maria Ribas, e resolvi ser ainda mais especial para Milka, e realizei todas as séries completas e mais algumas que acrescentei escondido da Gisele,  e ganhei essa baita dor na cintura. 

Mas paracetamol cura.
 
E relembrei uma coisa que eu já sabia:  não dá para ser feliz impunemente. Dá para conservar a alegria, a disposição, a energia, mas não dá para ser feliz demais. Felicidade demais é improdutiva. Mas a alegria é preciso conservar.
 
Welington Miranda é psicólogo clínico com consultório estabelecido em Nova Odessa. Nova Odessa fica ao lado de Americana e de Campinas e eu, quando vou visitar a Sandra, não escolho os shopings da região para fazer compras. Nos shopings eu só passeio e compro livros na FNAC.  Eu escolho Nova Odessa como o meu centro de compras. Porque tem o jeito das cidades do interior e porque lá já conheço algumas pessoas nas lojas. É bem legal comprar lá.
 
 Mas Welington e sua esposa Daniela, os conheci através do Wanderley e da Sandra, num dos  churrascos que Wanderley organiza quando  nós chegamos,  e ele se entusiasma com a nossa presença e convida os amigos para  nos recepcionar. Wanderley é um festeiro doméstico.  
 
Welington, que é psicólogo, parceiro de link ( ele também escreve) amigo da família, e meu leitor, recebeu de Sandra a seguinte observação:
 
- Welington, minha mãe é uma mulher muito solitária. Acho que vou mandá-la para você. O que você acha de uma terapia?
 
- Sandra, não me faça isso. Eu não aceito tratar a sua mãe.  Se a sua mãe perder a deprê, nós perdemos a escritora. O que move a sua mãe é o mundo particular que só ela tem e que só Deus alcança. Eu posso orar pela sua mãe, mas fazer terapia nela eu me recuso.- Welington fala com a liberdade dos íntimos e não com o diploma de psicólogo. Também porque sabe que eu não poderia fazer terapia morando tão distante dali.
 
Mas eu me encantei com a fala de  Welington. Desde o dia em que Sandra me contou esse fato, tenho guardado a minha melancolia na mão direita fechada e dura. E agora, que Milka viu a minha alegria, guardarei a minha alegria na mão esquerda fechada e dura. Não abrirei mão de nenhuma das duas. Conservarei  a alegria para frequentar a academia e a melancolia para escrever um caminho na terra.
 
Quem inspira um estilo não pode trair o estilo que inspira, principalmente se esse estilo estiver realizando uma mínima transformação benéfica nos seres que tocamos.
 
O último livro de crônicas de Rubem Alves tem o título: “OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA.”  Isso é porque Rubem Alves não me conhece. Se ele me conhecesse o título seria: “OSTRA MEZZO A MEZZO”. E o molho cada um acrescentaria conforme a necessidade: melancolia para os melancólicos, alegria para os felizes e Deus para todos. Principalmente para mim que preciso produzir a pérola. 

* Site do Welington: www.welingtonmiranda.com.br
Eu recomendo: o site e o psicólogo.