Faz muito pouco tempo ainda que perdi um
pedacinho do meu coração e para quem fiz
um tributo em forma de texto como despedida.
Era um canário e chamava-se Lukinho.
Pois é. Chorei, me entristeci e achei que tinha
reserva de força interior para aceitar que ele 
se fosse.  Mas que força que nada.


Adoro animais e aves, tenho muos deles e os
trato como se fossem filhos mesmo.
Agora começo a me preparar para outra perda.
Estou perdendo o Tupi agora.  É um melro
lindo, cantador com 16 anos.  Disse é, mas não
é mais, doentinho, com artrose, não voa mais e 
requer cuidados dobrados agora.
Lá vou eu sofrer novamente.

E já começo a fazer minha cabeça.  Teve o tem-
po dele. Encantou, cantou, emocionou e agora
precisa ir embora. Ah como gostaria de ser dife-
rente.
Mas sei que com eu muitos sofrem também quan-
do os perdem.
Entrei num desses sites de criadores de aves 
exóticas para saber da possibilidade  de colocar
outro em sua gaiola, pois não vou suportar ve-la
vazia sem ele.  

Casualmente encontrei no site uma carta endere-
çada a uma passarinha. Deve ser um  um apaixona-
do por aves como eu.
Achei lindo o gesto e resolvi postar aqui:

E quem disse que um passarinho não pode mudar nosso mundo

Mensagem a uma passarinha chorosa
Eu acredito em Papai Noel e acredito em cegonha. Acredito em
promessas de políticos e acredito que realmente, um dia, ainda que demore, o governo vai acabar definitivamente com a inflação. Acredito na sinceridade e na honestidade dos vendedores de produtos eletrônicos, quando explicam que a coisa mais fácil do mundo é botar um computador pra funcionar.
Acredito nas previsões da Mãe Dinah e acredito piamente em tudo o que
aimprensa diz. Só não acredito quando as pessoas, por mais preparadas e acadêmicas que sejam, dizem que os animais não passam de animais e que, por serem animais, não têm sentimentos. Não só não acredito como menosprezo essas pessoas. Para não dizer muito mais, já vi boi chorar, porco gemer, cachorro rir. Vi cavalo relinchar de saudade e passarinho morrer por falta do dono. Vi até o mundo ficar triste e o céu chover a troco de algum amor partido ou perdido.
É por isso que, neste exato momento, grito bem alto para uma certa passarinha ouvir: "não se preocupe. Seu filho está comigo e vai muito bem, obrigado." Não sei em que céus ela voa ou por onde anda essa passarinha neste exato momento mas, se você encontrá-la, dê o meu recado. Ela deve estar preocupadíssima e eu lhes conto por quê.
Dia destes estava com minha mulher numa dessas feirinhas que vendem de tudo, inclusive animais vivos (estou falando de animais mesmo, puros, nada a ver com políticos). A loja tem autorização do Ibama e das autoridades competentes (?).

Sem mais nem menos eis que surge na loja um pássaro preto (que também
é conhecido como Toldos Comelones, Chupim, Vira-Bosta e outros apelidos menos lembrados). Voava tão baixo que atropelava o chão. Até que deu uma peitada e caiu definitivamente. Foi um esparramo danado. Para piorar, chamou a atenção de um cão sarnento, já devidamente medicado mas com sarnas ainda à mostra. O cão foi pra cima do pássaro. Acuado, o pobre entrou voando numa gaiola cheia de galos e galinhas à venda.
Talvez tenha pensado: "sou penoso e aqui vou ficar entre penosos. "Um galinho garnizé achou que aquilo era invasão de território "...tão a
fim de cantar as minhas galinhas" E partiu para as bicadas. Foi pena. Voando, um deus nos acuda. Preocupada, minha mulher chamou a dona da loja, uma senhora japonesa. "O galo vai matar o passarinho..."A mulher correu e socorreu o pássaro, livrando-o da gaiola. Sem querer, jogou-o no chão, quase direto na boca do cão sarnento. Atordoado, o pássaro preto escapou voando, indo direto para as mãos da minha mulher como quem diz "me salva que eu tofu!". Só que, quem sifu fui eu. Explico como. Minha mulher acalmou o pássaro preto, que tremia e se entregava àquela proteção inesperada. Foi se ver e constatou-se tratar-se de filhote perdido durante um eventual primeiro vôo. Tudo isso se dera enquanto eu estava a alguns metros distante dali, pagando um punhado de flores que minha mulher tinha comprado. E eis que ela chegou com o pássaro nas mãos e ordenou: "Segura, rápido, que eu vou buscar a Babá." Babá, esclareço, é minha neta de dois anos, que nos acompanhava no simples ato de comprar flores, antes que nossa vida fosse invadida pelo pássaro preto.
Quando vi, estava no meio da loja com o passarinho nas mãos (no
sentido literal da palavra, claro). A japonesa disse que não poderia ficar com o filhote. Pássaro preto é muito requisitado e procurado por criadores e amantes do lindo canto desse pássaro. Só que incorre em crime quem o captura. Legislação federal. Dá cana. Continuei com o passarinho na mão e o coração dele batia tão agitado quanto o meu.
No meu desespero pensava: "se eu soltar, este bicho morre". Mas onde encontrar a mãe dele? Onde encontrar o ninho? Onde encontrar a lei?
Quero deixar bem claro que não cacei e nem capturei animal nenhum. A contrário, eu, minha mulher e Babá, minha neta, é que fomos caçados por ele.
Devidamente batizado, crismado e corinthianisado, o pássaro preto hoje canta, encanta e está encantado com o canto que arrumamos para ele.
Resta solicitar a você que, se eventualmente passar perto de uma feirinha e encontrar uma passarinha desesperada atrás do filho que se foi num primeiro vôo, pode dizer a ela que o filhote dela vai muito bem.
Assobia, canta, dança, e faz a nossa emoção continuar voando alto.

Autor: Prof. Edgard Barros

Carlos Drumond de Andrade dizia que nós os humanos somos os anjos da guarda dos animais. Concordo e faço a minha parte como o Professor.

ysabella
Enviado por ysabella em 24/10/2008
Código do texto: T1246621
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