A ÁGUA E O ÓLEO

É do conhecimento geral que água e óleo não se misturam, pelo menos ao que se sabe até agora. Entretanto, há pesquisas sendo feitas no sentido de conseguir essa mistura. No Brasil, nestes tempos de agora, dois partidos políticos disputam a hegemonia em termos de popularidade e poder. São eles o PT e o PSDB.

Embora ambos tenham como cerne de sua filosofia a democracia social e tenham estado unidos na derrubada da ditatura, tornaram-se antagônicos na prática política. Nessa prática temos hoje, como situação, o PT, seguido de partidos que não se definem muito bem por falta de convicções e pela vantagem de estar ao lado do poder, já que não têm outro caminho e, de outro lado, o PSDB, partido lider da oposição e que a ele outros se juntaram, por razões semelhantes às daqueles que se aproximaram do PT.

Em resumo, temos dois partidos com ambições e possibilidades reais de poder ou de alcançar o poder. Os outros são como se fossem escoltas aos dois protagonistas. Significa quase um bipartidarismo, só que ambos embasados numa filosofia socialista de centro. Pelo menos é o que demonstrou o PT logo após a sua assunção ao poder, diferentemente de quando foi oposição.

Pois bem. Água e óleo não se misturam. Não é que, em Belo Horizonte, o impossível aconteceu? Nenhum dos dois partidos tinha candidato próprio capaz de inspirar confiança de vitória nas urnas para a prefeitura. Evidentemente, a política é repleta de arranjos, quando interesses maiores estão em jogo. O governador (PSDB) e o prefeito (PT) costuraram uma aliança inédita, indicando um nome de pessoa ligada ao PSB, que nunca foi político e quase que completamente desconhecido do eleitorado.

Quando esse arranjo foi divulgado, o diretório nacional do PT esbravejou, esperneou, ameaçou mas não conseguiu impedir a inédita aliança. Alguns, mais radicais, se opuseram de forma veemente. Esses nomes são conhecidos. O presidente se mostrou indiferente, pelo menos publicamente. É claro que, tanto o governador como o prefeito têm seu projeto político e para isso criam sua estratégia e essa aliança certamente faz parte desse planejamento.

Mas, na verdade, independentemente de cor partidária, os mineiros e belorizontinos, pelo que se observa, têm dado sua aprovação tanto ao governador como ao prefeito, que procuraram trabalhar juntos, se entendiam de forma cordial, discutiam os problemas como pessoas sensatas e lograram êxito em suas administrações, sem escândalos, cambalachos e outras práticas comuns na politica nacional.

Como ideológicamente esses partidos não se diferenciam muito, tanto é que o governo federal atual seguiu as linhas mestras traçadas no governo anterior (FHC) e o fez porque não tinha alternativa melhor, Belo Horizonte acabou por dar uma demonstração cabal ao país de que é possível governar sem rancores e ódios, pelo contrário, dando-se as mãos e pensando juntos.

Não há mais lugar para radicalismos e fundamentalismos. Mesmo sabendo-se que qualquer político age em função de suas ambições pessoais, como dito acima, vemos que é possível conciliar esse interesse com os desejos da sociedade.

Que o ineditismo ocorrido nessas Minas Gerais sirva de inspiração para a política nacional, que tem sérios problemas para resolver, deixando de lado as picuinhas partidárias retrógradas que temos presenciado ao longo de muitos e muitos anos.

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 26/10/2008
Código do texto: T1249663
Classificação de conteúdo: seguro