RECOMEÇO

Ela estava passando por uma crise existencial, que muitos chamam de crise da meia idade. A casa outrora cheia e alegre com a presença dos filhos, agora estava triste e vazia, pois estes seguiram seus caminhos, e há seis meses, o marido amado e companheiro de quase três décadas falecera. A dor da perda era insuportável. À noite em seu quarto, a cama vazia aumentava o sofrimento, e a solidão a devorava. A vida para ela tornara-se monótona, triste, sem sentido. Numa certa manhã enquanto tomava o café, os pensamentos a levavam a um passado, que apesar de das dificuldades, e de muitos atropelos, fora feliz. Agora ela estava só, após ter dedicado ao marido e aos filhos, os melhores anos de sua vida, de ter abdicado de muitos sonhos, para ser esposa e mãe. Ela estava ali absolutamente só. De repente tomou uma decisão, e após terminar o café, levantou-se de um ímpeto e começou a fazer uma arrumação geral na casa, trocando móveis de lugar, quadros, retirando dos armários e das gavetas pertences do falecido marido, que lá ainda estavam. Ao terminar, sentiu-se renovada, banhou-se, olhou-se no espelho, e descobriu que ainda era uma bela mulher. Vestiu-se com cores alegres, maquiou-se discretamente e saiu. Dirigiu-se ao cemitério, levando flores que depositou no túmulo do falecido, e em oração agradeceu aos quase trinta anos de feliz vida em comum. Despediu-se e saiu, em busca de uma nova vida e quem sabe de um novo amor.

Violeta noturna
Enviado por Violeta noturna em 27/10/2008
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