PROGRAMA DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA(PDV)

Deixemos, agora, os Picos do Piauí e passemos aos montes, os Montes Claros de Minas Gerais, e a outras regiões montanhosas do Brasil, nos velhos tempos em que Collor de Mello ainda não havia jogado o povo brasileiro contra a comunidade bancária.

Não ganhávamos esses rios de dinheiro, nem éramos os datilógrafos mais bem pagos, como parece ter dito Dr. Golfinet. Até comentam as boas línguas que o Ex-Ministro, quando ainda era magro, tentara concurso para o Banco do Brasil e não fora aprovado; daí sua inveja de bancários a ponto de chamá-los de os datilógrafos mais bem pagos do Brasil.

Naquele tempo, ganhava-se o suficiente para viver com dignidade e não se tinha nada além de uma casa de morada, um carro e mesa farta. Pagávamos nossas contas com pontual habitualidade; não dávamos cheques sem fundos, nem calote no comércio. Não é esse o modelo de cidadão desejado pela “Gentil pátria amada?”

Tínhamos, em cada colega, um irmão e amigo. Isso somente até antes do Programa de Demissão Voluntária, o famigerado PDV, que destruiu famílias inteiras e levou muitos desempregados ao suicídio, à morte por ataque cardíaco ou ao coma alcoólico depois de ficarem sem dinheiro para oferecerem pão aos filhos.

Quem não tem saudade do Banco, quando era do Brasil?! Quando era dos brasileiros e emprestava dinheiro a juros módicos, fomentando o desenvolvimento do país e, por fim, desempenhando sua função social, sem se preocupar com lucros exorbitantes em seu ativo. Qual funcionário daquela instituição não tem saudades do DESED, um departamento interno, voltado à qualificação e à formação de profissionais dentro da própria empresa? Dali saíam grafotécnicos, exímios contadores, administradores e rábulas; todos formados em cursos intensivos que iam de 30 a 90 dias de duração.

Não raro se ouviam colegas graduados em Ciências Contábeis ou em Administração de Empresas dizerem: “Eu fiz faculdade, mas aprendi Matemática Financeira no DESED.”

Por onde andará o Mattoso? Ele ensinava a medir o peso do punho usando o sulco deixado pela caneta no papel. Falava com gracejo dos idiotismos gráficos com fuga ao infinito, das assinaturas senis e canhestras e sobre o olhar para a pulga – a metáfora da pulga e do cachorro nas aulas de grafoscopia era a seguinte: “Se você olhar para o cachorro, não vê a pulga; e, se olhar somente a pulga, não vê o cachorro.”

Por onde andará Sebastião Peixoto da Silva, o Tião Foguim? Ele dizia: “Piau, me ensina a analisar balanço e, quando você estiver apertado nos finais de ano, pode contar com minha ajuda, independentemente de hora extra, para agilitar os serviços de cadastro.“ O Tião tinha formação acadêmica em Ciências Contábeis, mas foi a prática de serviços bancários que o tornou, mais tarde, instrutor do DESED.

E o Tiãzinho de Guaxupé que se apaixonara por Alcione, a colega loira?! Por causa desse amor não-correspondido, bebia demais e foi expulso do Hotel Atalaia. Procurou a ajuda do Piau, hóspede do Hotel Cristina:

- Piau, Tiãozim tá na rua.

E lá foi o Piau acolher o Tião, que tomara umas a mais e queria botar fogo na imagem de Cristo que Dona Naná cuidava com tanto carinho, limpando-a e dependurando-a, outra vez, na parede da sala do hotel.

Por onde andará o gerente Berilo Braz Barbosa? Certa vez, ao saber de uma saca de arroz deixada em sua casa por um cliente, providenciou de imediato o depósito em conta corrente do “engraçadinho”, no valor equivalente ao preço de mercado do presente recebido! Por onde andam Gilma, Leda Simão e Eloísa que ofereciam arroz com pequi aos colegas?! E Paulim, Messias, Arruda, Baltazar, Marrom, Chico Branco, Pigó?

Que dinheiro paga o churrasco regado à cerveja, na casa de Lucila; o banho de mangueira e o jogo de pingue-pongue? E as festas na “República Puros e Virtuosos”? Por onde andará o JEB, o chefe de Carteira Rural que morava com os “Puros e Virtuosos”?

Sabe-se que Maduca morreu de morte natural e, por uma questão de respeito aos mortos, não declinamos os nomes daqueles que anteciparam sua viagem desta vida para o além.

Era assim o Banco do Brasil antes de Collor de Melo jogar o povo contra os funcionários da casa, chamando-os de uma “Caixinha de marajás”. Por que, ao invés de reduzir o salário daqueles que ganhavam o suficiente para viverem com dignidade, não quis o Presidente aumentar os salários dos que viviam em estado de miséria?

O plano de demissão voluntária não é nada voluntário, e nunca o será. A justiça é cega; por isso, não vê essas situações. Não enxerga as cartas circulares confidenciais que trazem ameaças, determinando que se separem marido e mulher que trabalhem na mesma empresa, mandando um para o Sul e o outro para o Norte, a fim de pressioná-los a aderirem ao PDV. Não se podia conversar sobre o assunto nas dependências internas das agências; era uma guerra de nervos! Ninguém podia opinar, dar sugestões sobre as questões de afastamento ou de permanência no quadro funcional do banco. Piau, no entanto, deixou seu recado no flanelógrafo, no último dia permitido para manifestar a adesão:

“Só deixo meu Cariri no último pau-de-arara.”