ESCONDERIJOS DO TEMPO*

Em alguns momentos tratei dos quarentões. O que dizer dos cinqüentões? Eu, que em outubro, cheguei aqui (e também preciso me adaptar as novas regras ortográficas).

Certa propaganda, calça jeans, bela imagem traseira de uma jovem e uma frase que dizia, mais ou menos assim, “o corpo é uma embalagem que leva o cérebro para passear”.

Um dos problemas que meio século oferece é este: andando pelas ruas, o cérebro lança olhares juvenis enquanto os olhares que voltam enxergam apenas o senhor que passeia.

No popular, aqui no sul, dizem que o homem, à medida que o tempo avança, fica que nem o machado, o fio vai indo, mas o olho (a parte de cima) continua o mesmo.

A ciência até isto contesta. Dizem os especialistas, quem tiver sorte, quem viver muito, terá catarata. É natural a perda da visão em razão de óbvias conseqüências do passar do tempo.

Das coisas que aprendi, a ciência comprova, cantar músicas e letras com mensagens positivas faz bem à saúde.

Encontrei uma equipe da reportagem da TV Bagé. O chefe de reportagem e seus colegas de trabalho, num bar da cidade, as quintas, cantam e tocam. Prometi que, na próxima vez que for lá, vou dar uma canja (na verdade, vou aproveitar o público deles para fazer o meu show), voz e violão.

Logo depois do dito, fiquei a pensar no repertório.

“Ah! Se a juventude que esta brisa canta

Ficasse aqui, comigo, mais um pouco”.

Eu e a brisa – Johnny Alf

Dia desses observei que minha filha, que tem dez anos, gosta de bossa nova, alguém observou:

- Filho de velho sempre gosta!

“Que me perdoem se eu insisto neste tema

Mas não sei fazer poema ou canção

Que fale de outra coisa que não seja o amor”.

Você abusou – Antônio Carlos e Jocafi

Nossa! Esta ainda fala em quadradismo e cafonice. Além do mais fala de abuso, será que vão pensar que usaram e abusaram de mim? Bem, não chega a ser ruim. Algum mais jovem, por gosto ou de sacana vai pedir: - canta mais uma, daquelas... Quer dizer, do tempo antigo. Canto.

“Ando escravo da alegria,

E hoje em dia, minha gente, isto não é normal.

Se o amor é fantasia,

Eu me encontro, ultimamente,

Em pleno carnaval”.

Escravo da Alegria – Toquinho e Mutinho

Eu sei que ficarão com inveja e, supondo que gostaram, vão pedir mais uma.

“Quem me dera viver pra ver

E brincar outros carnavais,

Com a beleza dos velhos carnavais,

Que marchas tão lindas,

E o povo cantando

Seu canto de paz”.

Marcha da Quarta-Feira de Cinzas – Vinícius de Morais e Carlos Lira

* Nome de um livro de Mário Quintana. Em tempos de Feira do Livro, em Porto Alegre, uma lembrança do poeta.