Os dois lados do paradoxo

Bem, eu deveria estar feliz por estar feliz, por tudo correr bem no momento, parece que não há nada de errado que me atinja a ponto de sentir perturbação e, isso me perturba causando um grande paradoxo, um conflito interno, como uma carne no dente, um cadarço que insiste em manter-se desamarrado.

Críticas? Praticamente nenhuma relevante ou instigante, nenhuma daquelas que tiram sono, que produzem pensamentos desvairados, que enlouquecem por instantes, um frio na barriga, que causam desconforto ou raiva, que soam como sinceras.

O mundo? Tudo parece errado e eu me sinto bem na terra, to com medo de achar que aqui é mesmo meu lugar, que sou humano normal, 99% defeituoso e aceitável. Conformado com o destino, com a prisão, com as grades, com os costumes, tradições, hipocrisias, trapaças, diferenças prejudiciais, com guerra, a política, a ética, etiqueta, as leis, enfim: o sistema! Porque essa fase de euforia não passa? Com que tipo de olhos estou olhando o mundo? Que pele é essa que não arde intensamente? Como formou este couro, este calo aqui, esta proteção? Esta... Sei lá o que?

O que está me deixando incomodado é o fato de não estar incomodado. Mas vem aí o outro lado da moeda... Há, talvez, ainda uma consciência do que está ao redor, dos problemas, das felicidades, da vida. Isso me alivia um bocado, penso agora, que pode ser uma auto-defesa, para me manter aqui por algum tempo e manter viva a esperança de encontrar o sentido da vida ou é essa mania de tentar ver sempre os dois ou três lados da moeda.

Enzo Pinho
Enviado por Enzo Pinho em 03/11/2008
Reeditado em 03/11/2008
Código do texto: T1263286