MÉDICOS E MÉDICOS

Assisto na TV a uma reportagem que me deixa estarrecido, porém, não muito surpreso.

O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), preocupado com a qualidade do ensino da medicina em nosso país, aplicou uma prova a estudantes já prestes a se formar, alguns já pleiteando a necessária residência médica, que vem a ser o exercício da especialidade escolhida pelo profissional recém-formado. Nesse estágio remunerado, os jovens médicos já assumem determinadas atividades junto aos pacientes, normalmente sob a supervisão e orientação de médicos experientes, que geralmente atuam como professores universitários.

Pois bem, o resultado foi aterrador, considerando-se – segundo o CREMESP – que as questões eram relativamente simples e de conteúdo básico para um curso de medicina. De cada dez estudantes, seis não obtiveram aprovação, não sendo revelado o número total de candidatos e nem o critério para a escolha dos mesmos.

O presidente do CREMESP declarou que estamos formando médicos além do limite das nossas necessidades, porém, com uma qualidade que deixa muito a desejar. Ou seja: a quantidade sobrepondo-se à qualidade. Disse ainda que temos hoje no país 173 faculdades de medicina, contra 126 nos Estados Unidos. Sem entrar no mérito dessa quantidade de instituições de ensino, preocupa-me que tipo de fiscalização é exercido sobre elas. Não me surpreenderia se viesse a saber que existem médicos se formando por correspondência...

Quando assisto a uma reportagem como essa, feita pela Rede Record de Televisão, associo a uma série de outras reportagens mostrando a qualidade de nossos hospitais públicos, onde o mais comum é ver-se pacientes espalhados pelos corredores, morrendo, sem a menor assistência. Tenho vontade de sair gritando e perguntando aos quatro cantos aquilo que muitos já perguntaram antes de mim: que país é esse?

Que podemos sentir ao imaginarmos que em algum dia de nossas vidas poderemos precisar de um desses médicos para nos assistir? Ou ainda, como seremos tratados dentro de um hospital, até mesmo particular?

Quem me conhece ou já leu alguns dos meus textos, talvez saiba que trabalho na área da saúde. Estando “no meio”, não me é difícil presenciar situações grotescas, muitas delas motivadas por puro desconhecimento profissional. Não precisa ser médico para entender o que acontece, de tão evidente que são os fatos observados.

Errar é humano, alguém já disse, portanto, passível de acontecer. Alguém também já disse que existem profissões onde simplesmente não se pode errar. Prefiro dizer que só não se pode errar por imprudência, imperícia ou negligência, principalmente na medicina. Não vou me estender sobre o tema, pois a ética me impede de fazer isso.

A reportagem aqui referenciada foi ao ar no dia 5 de novembro de 2008, no Jornal da Record. Além de deixar registrado aqui o meu repúdio à situação em que chegou o ensino em nosso país, digo também que seria muito interessante – se não, obrigatório – que os Conselhos Regionais de Medicina dos outros estados brasileiros tivessem a mesma atitude, fazendo posteriormente a divulgação dos resultados obtidos, tal como fez o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.

A sociedade agradece.

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 06/11/2008
Reeditado em 06/11/2008
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