Incêndio no Barraco

Incêndio do barraco.

Ao amanhecer do dia, logo observei uma espessa camada de faíscas pretas derramadas por todo meu quintal, invadindo a casa. Fiquei a matutar sobre o que teria acontecido. Abri o portão, o barro da praça havia desaparecido. Nada constatei. Por volta de 2:00 horas da madrugada, o barraco do Carlos fora incendiado de forma barbaramente estúpida por autoria não identificada. Foi despejada gasolina sem dor nem piedade sobre as peças de madeira e palha que formavam o barraco. O criminoso ateou fogo criminosamente. Carlos encontrava-se no barraco dormindo com sua esposa, e a cachorra. Logo que ouviu o estalido saltou fora com a família e ficou de longe observando tudo acontecer atônito sem nada entender. O fogo consumiu todas as tábuas, e seus pertences que circundavam ao redor da antiga árvore da praça que formava seu ninho.

Não foi possível determinar a causa do incêndio e, nem fazer o registro da ocorrência, a polícia técnica não pode ser acionada, uma vez que o barraco era algo irregular. Ele apenas nos adiantou que o motivo do crime não tem explicação. Supostamente, não teria partido de outro motivo senão rixa?

Carlos, homem jovem, embora morador de rua sofrido, aparentando mais ou menos trinta anos de idade. Chegou devagar à praça acompanhado de sua cachorra há pouco mais de oito meses, foi encostando umas tábuas velhas, colchonete rasgado, entre outros trapos. Aos poucos foi montando seu barraco em frente aos antigos e conhecidos prostíbulos da São Pedro; no tronco da velha árvore, na descuidada praça das Rocas. O Gomes sempre prestava socorro, auxiliando com um pouco de comida, roupas e calçados usados. Vivia ele harmoniosamente com a vizinhança. Sem trabalho catava lixo, arranjava alguns biscates nos dias de feiras das Rocas.

Sem barraco, hoje Carlos vagueia pelas ruas com ares de mendigo despejado, sem amparo, sem direção, vítima da desigualdade social.Que mundo é esse que vivemos? Onde estão nossos representantes do poder público? Representantes da Igreja local? Divago com meu espírito imerso de compaixão.Analiso que minha omissão de cidadã também interfere nesse processo. Temos que nos dar as mãos, fazer algo mais consistente que possa minimizar a situação atual.

Natal, 04/11/2008

Roseli
Enviado por Roseli em 07/11/2008
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