As pernas de Obama, o politicamente correto e a declaração de amor do presidente

Com um título desse tamanho, quase nem precisa de texto...

Quantas eleições americanas acompanhamos? Alguma com tal interesse? Alguma vez o mundo seguiu cada passo de uma campanha nos EUA com tanta atenção, desde as prévias? Há quatro anos, alguém acreditaria se lhe dissessem que o próximo presidente americano seria negro, com nome estranho, filho de muçulmano e com menos de 50 anos de idade? Pois aconteceu e de lavada! E ganhou de um herói de guerra (o que, nos EUA, significa muito), contra quem ninguém poderia dizer nada de substancial.

McCain, com um discurso antigo, que agora deve ter descoberto ultrapassado, conseguiu sensibilizar a direita, especialmente a religiosa, fundamentalista e intolerante. Felizmente não foi suficiente. “Lutemos pela América”, dizia, e todos sabemos que isso significa continuar com a política belicista e imperialista implantada há décadas. Arnold Schwarzerneger, o intelectual austro-americano e ganhador de um Oscar pelo conjunto da obra de filmes pacifistas, num comício, saiu com uma pérola impagável: “Obama precisa fazer exercício para engrossar as pernas, suas pernas são muito finas”. Seria apenas uma brincadeira se não estivesse a um triz de: “Obama precisa lavar mais seu rosto, deixa-lo mais branco, seu rosto é muito escuro”.

Agora um afro-americano morará na Casa Branca. Quem sabe, com ele no cargo de maior poder real no mundo, os “afro-americanos” ou “afro-descendentes” deixem de ser chamados pelo eufemismo que esconde um enorme preconceito. Quem sabe as etnias sejam reconhecidas como a beleza do caleidoscópio raça humana, sem necessidade de subterfúgios lingüísticos. Quem sabe o “politicamente correto” deixe de ser o “hipocritamente correto”, como é, por ver quão longe pode chegar um homem que não precisou dessas proteções para chegar lá. Quem sabe o sonho de Martin Luther King se torne real já, quem sabe o exemplo de Mandela frutifique mais, quem sabe o bom senso passe a residir na casa mais visada do Universo.

Como soa diferente o “Tudo podemos porque somos americanos”, dito por Reagan há muito tempo, do: “Tudo é possível, a mudança chegou aos EUA” dito por Obama no seu discurso. O primeiro é o da arrogância, o segundo, o da esperança. Como é bom e emocionante ouvir um homem tão forte ter a coragem de parecer frágil por saber onde está sua fortaleza, e confessar: “Não estaria aqui, nesta noite, sem o apoio incansável de minha melhor amiga durante os últimos 16 anos, a rocha de nossa família, o amor de minha vida ...: Michelle Obama”.