Inexpressão-Parte I

Provocam risos as facetas que o ser humano pode adquirir. Muitas expressões em uma só, caretas parecendo engraçadas, distorcidas, “rugas expressivas”, peles caídas e flácidas. De uma imagem feliz pode tornar-se um semblante descontente, onde o rosto triste, apático, “autístico” deriva para aparência esplendida, sorriso amarelo, dentes brilhantes, brancos e sem cáries.

As vozes são acometidas de desníveis, ajustando-se conforme as inexpressões. Expressões podem ser inexpressivas também. Elas passam a ter esse direito no momento que algo nos faz descontente e um surto depressivo nos preenche. Acusamos tudo de ser em vão e nada nos provoca arrepios. Mas o equívoco é nosso e não do mundo.

Riso pode ser nervoso em meio a algo trágico. Alegres momentos derivam choros e soluços. Por que tudo tem que permanecer como sempre foi? Há contradições nas expressões, já dizia alguém com transtorno invasivo do desenvolvimento...

Vozes afinadas, soprano delicado tendem a desafinar juntamente com as faces modificadas. Comparo como uma avalanche decrescente em que tudo vem rolando do pico, do auge. Estética intocável, pele esticada, voz aveludada, epiderme envelhecida, sussurro frágil e inconstante.

Gostaria de descobrir outras inúmeras faces, além de caretas tristes e felizes. Ando em busca disso. Faces rasgadas, misturas emocionantes formariam trejeitos patéticos e confusos. Retrato de “Arlequim” expressando roubo, nascimento ou morte.

Pode ser também lágrimas de sangue escorrendo pela perna ao invés do rosto. Suor saindo dos olhos ao invés das glândulas. Choro por entre os poros, ardido como água escalpelando e logo esfriando como sensação gélida.

Toda a forma de inexpressão é válida, contrariando a ordem dos fatos e deixando o lugar-comum escoar. Se quiser voltar à expressividade chore por um amor não correspondido, ame loucamente, chore ao nascer uma criança, chore num funeral e ao cantar uma canção afine a voz.

02/11/08