O encontro entre duas escritoras do Recanto das Letras

Depois de uma quinta-feira inteiramente chuvosa, a sexta amanheceu nublada, com dúvidas se continuaria se derramado em águas ou daria lugar ao sol. Por esta indecisão do dia, carreguei o guarda-chuva por toda manhã com medo de que aquele se tornasse mais um dia em que tudo fosse novamente por água abaixo. No entanto, fez-se sol.

Antes mesmo do meio-dia, fez-se sol e o sol ocupou seu lugar de astro rei por toda a tarde e, somente no início da noite, despediu-se destes meros mortais para nos deixar na companhia da lua. Confesso que, por meus olhos terem estado totalmente voltados para a terra naquela noite, não olhei para o céu para contemplar a lua, entretanto, fui capaz de pressenti-la, com toda sua magnitude.

“Por que meus olhos estavam totalmente voltados para a terra naquela noite?”

Porque se permanecesse com os olhos voltados para o céu, buscando inspirações para meus versos, como poeta que almejo ser, perderia a oportunidade de me fazer presente naquele encontro: o jantar com Ana Maria Ribas Bernadelli, exímia escritora deste Recanto das Letras.

Quando se cogitou a possibilidade daquele encontro, senti uma mistura de felicidade e medo. Felicidade, pois depois que a descobri no Recanto e passei a ler seus textos, tornei-me admiradora de suas letras e isso me fez querer conhecê-la, como imagino que todos desejam conhecer aqueles que, de uma forma ou de outra, lhes são importantes. Já o medo era por conta desta minha despropositada timidez, que me faz querer esconder-se atrás da porta toda vez que surge em casa uma visita estranha; que rouba todas as palavras da minha boca e que me deixa sem jeito na presença de desconhecidos e conhecidos também.

Quanta tolice a minha, não? De que serve esta exagerada timidez? Por favor, não respondam! Desta pergunta, eu sei a resposta: não serve para nada. Mas, infelizmente, certas coisas nos pertencem e não podem ser expulsas de nosso ser da noite para o dia ou enquanto houver vida.

A timidez me pertence, o medo me pertence, a insegurança me pertence, como também, me pertencem a alma sonhadora de menina, a alegria e a tristeza, o sorriso e as lágrimas, a coragem e a força (estas que afloram quando menos espero), a seriedade e a comicidade, enfim, como me pertencem tantos outros opostos, todos tão natural ao ser humano, aquele feito de carne e osso.

Contudo, deixemos isso para lá e voltemos nossos olhos para a terra, para o que é realmente importante nestas minhas singelas palavras, ou seja, o jantar de sexta-feira noite, dia 07 de novembro de 2008, com Ana Maria Ribas.

Naturalmente, quando ela chegou, percebeu minha “falta de jeito” (isto não sou capaz de esconder, veio escrito em minha testa quando nasci), mas este detalhe não a impediu de me oferecer um sorriso e um abraço acolhedores e me fazer sentir-se a vontade. Em seguida, durante todo o jantar, sua voz deu voz ao meu habitual silêncio e fez-me rir e riu também.

Lembram-se daquela melancolia que Ana diz lhe pertencer? Não lhe acompanhou neste nosso jantar, ali apenas esteve presente a sua alegria, aquela que também lhe é tão natural e tão sua, tanto quanto a melancolia que percebemos algumas vezes em suas palavras em sua escrivaninha, ambas tão necessárias para que ela seja quem é, simplesmente, Ana Maria Ribas Bernadelli.

Como a própria Ana Maria disse em seu texto (De como uma coisa puxa a outra): “o nosso jantar foi ‘tanto’”, que ainda hoje me pergunto se foi real. Por sorte, temos uma foto para comprovar e servir de recordação deste encontro, que, sinceramente, espero que se repita.

Ana: numa semana em que tudo estava indo por água abaixo, nosso jantar surgiu para impedir que tudo, inevitavelmente, fosse levado pela chuva e eu pudesse me sentir bem, me sentir feliz.

Ah! Quanto a minha timidez, devagarzinho eu me solto e quem sabe um dia me torne um pouco mais falante, não muito é claro, porque muito me agrada ouvir e aprender com as outras pessoas, principalmente, pessoas como você, que sabem tanto, sobre tantas coisas e para minha alegria são ótimas falantes. E depois, o que usaria como motivo para minha escrita, que não seja dar voz ao meu silêncio?

Dany Ziroldo
Enviado por Dany Ziroldo em 09/11/2008
Reeditado em 09/01/2009
Código do texto: T1274657
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