Esse tal de imprevisível...

O imprevisível pode soar assustador ou emocionante, depende da maneira como o encaramos. Sua face, tão desconhecida e misteriosa, nos causa sentimentos controversos, uma mistura de angústia e excitação, nem sempre agradáveis. Mas é fato: é impossível evitar esse encontro, uma vez que, desde o princípio, o imprevisível parece reger nossa existência.

Ao nascermos, um mundo de escolhas se abre diante de nossos pequenos olhos, ainda pouco acostumados com a luz da nova casa. Apesar de nossa evidente inexperiência em decidir grandes questões, somos empurrados para um ambiente inóspito e um tanto quanto imprevisível(!!!). Cada cheiro, cada sensação, cada textura parecem novos e imprimem em nossos sentidos recém-formados uma ordem avassaladora: experimente! Depois disso, todos sabemos o que ocorre. Esse instinto nos acompanha por uma boa parte de nossa vida, com especial intensidade na puberdade, época em que aproveitar o imprevisível, o tal carpe diem, parece ser a ordem imediata. Porém, essa especial capacidade, adquirida na infância e aprimorada com o passar do tempo, na idade adulta, começa a causar medo e já não faz as descargas de adrenalina serem tão convidativas.

Infelizmente, a maioria das pessoas, ao envelhecer, acaba perdendo as inúmeras chances que têm de se deslumbrar com o imprevisto. Aliás, o que antes era sinônimo de descoberta, vira comprimido para dor de cabeça. Ao contrário do que escreveu o filósofo francês Marcel Proust, para quem as melhores coisas da vida são feitas de maneira imprevisível, essas pessoas encaram o imprevisto como um predador, pronto para devorar seu tão estimado mundo planejado. Mas a história provou que esse tipo de atitude não forma indivíduos capazes de transformar a realidade a sua volta, mas sim, homens e mulheres com medo de sua própria vida. O irônico é que, por mais que se evite o imprevisível, no final das contas, ele estará nos esperando como no dia em que nascemos, só que dessa vez para uma viagem sem volta.

Sendo assim, não há motivos para encará-lo como nosso inimigo. Ao contrário, sua presença deve ser analisada como uma oportunidade de mudança, de evolução para algo melhor. Ou não. Afinal, é impossível prever.