Festa de São Joâo

Quem viveu sua puberdade e adolescência em cidades pequenas, ou em subúrbios afastados da cidade grande, deve guardar doces lembranças das festas juninas.

No norte existia, entre outras, uma tradição que caracterizava as comemorações em homenagem aos santos Antônio, João, Pedro e Marçal. Essa tradição era chamada de “passar a fogueira”

Tinha como objetivo selar um compromisso afetivo entre duas pessoas. Assim, quando duas pessoas acordavam um determinado “relacionamento de fogueira”, os dois, seguindo um ritual preestabelecido, “passavam fogueira” de compadres, de primos, de maninhos, de eternos namorados etc...

Era comum, entre os mais jovens, principalmente, a apresentação de uma outra pessoa com a seguinte expressão: “este é fulano, meu maninho ( ou primo, ou compadre etc...) de fogueira”.

As festas juninas tinham uma alegria solta, como os balões. A imaginação era excitada pelo pelo brilho e estouro dos fogos, pelo cheiro da pólvora, pelo calor da fogueira e pelo som da sanfona marcado pelo bumbo.

O aluá, o arroz-doce, o munguzá, a pamonha e a batata-doce, assada na própria fogueira, brindavam os mais exigentes paladares entre uma dança e outra.

Apesar da algazarra de sons e da anarquia das luzes, sempre era possível distinguir o brilho dos olhos e a emoção nas vozes daqueles que recitavam os versos para o ritual de “passar a fogueira”.

Santo Antônio disse,

São João confirmou,

que..... (registrava o compromisso afetivo),

pois Jesus Cristo mandou.

A arte é, sem dúvida, bálsamo e estímulo para nossas vidas.

Contou-nos o autor de “Passando a Fogueira” que suas rimas foram geradas no momento em que assistia uma exposição de pintura e deparou com um quadro intitulado “Festa de São João”. Imediatamente, aquela pintura, tal qual uma máquina do tempo, transportou o autor para uma terna viagem ao passado.

“Passando Fogueira” comemora aquele dia, quando as labaredas da fogueira pintaram o mistério do teu rosto, o pendular dos balões plagiavam o gingar do teu corpo, a simplicidade das cidades pequenas te vestiu com blusa rendada e saia de chita, e a brejeirice cabocla te enfeitou os cabelos com uma rosa e uma fita.

“Passando a Fogueira” celebra aquele momento de sonho, quando juntos, ardendo em emoção, recitamos:

Santo Antônio disse,

São João confirmou,

que nos amaremos para sempre,

pois Jesus Cristo mandou.

Passando a Fogueira

Como a lenha da fogueira,

o bumbo, a sanfona,

a alegria e a emoção

ardiam nas chamas da festa

da noite de São João.

Tu estavas vestida

com blusa rendada e saia de chita.

Enfeitando teus cabelos,

uma rosa e uma fita.

Com a benção de Santo Antônio,

com a permissão de São João,

com um chão e um céu estrelados

e no impulso da paixão,

“passamos a fogueira” como dois namorados;

“passamos a fogueira” como dois namorados.

Depois de tanto tempo,

contigo sempre ao meu lado,

uma certeza daquele momento:

foi lá “passando a fogueira”

o nosso casamento.

foi lá “passando a fogueira”

o nosso casamento.

Santo Antônio disse,

São João confirmou,

que nos amaremos para sempre,

pois Jesus Cristo mandou.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 10/11/2008
Reeditado em 24/06/2021
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