Enquanto o sono não vem.

Já eram quase três da manha quando olhou para o relógio pela primeira vez naquela noite fria.

Pensou no quanto a vida era cruel consigo, e tentou tomar alguns calmantes pra ver se o sono vinha logo, ou quem sabe algo além do sono, com uma dosagem bem alta poderia dormir eternamente, assim como a felicidade dormiu dentro de si, dando espaço somente para uma tristeza incontrolável.

Tomou algumas doses de vinho quente na tentativa de esquentar a alma, mal pode lembrar que o álcool cortaria o efeito dos calmantes e a insônia voltaria para a estaca zero, e mais uma vez pensou que uma super dosagem de vinho o levaria para um coma alcoólico eterno, onde ele vomitaria,vomitaria,vomitaria e por dias vomitaria na tentativa de uma desintoxicação, quem sabe em meio a tantas coisas jogadas pra fora, não jogaria a dor, e tudo aquilo que o consumia por dentro, como um cachorro vivo e feroz, que tem fome e come sem dó, com vontade, com anseio de se satisfazer.

Olhou tudo ao redor, e viu quantas possibilidades existiam ali de acabar com aquela dor que a madrugada em claro causava, aquela nostalgia, aquela saudade do que não foi, e por alguns longos minutos olhou vidros de veneno, varais, facas, e até mesmo uma arma antiga deixada como herança pelo seu pai. Olhou mais um pouco e viu o quanto aquela casa estava vazia, viu quadros amarelados e consumidos pelo tempo, alimentos com prazo de validade vencidos, roupas sujas jogadas pelos cantos, e cinzeiros lotados, copos com resto de wisk, vodka quente, licor doce.

Chorou, enfiou a cabeça no travesseiro e chorou, na tentativa de não ver o mundo, ou morrer de asfixia quem sabe, só queria morrer ou dormir, tanto faz, pra ele a vida em si já era a morte.

E a noite já não era mais noite, o sol já nascia do lado de fora, as pessoas já se preparavam pra retomar a infeliz rotina que preenchia o vazio, enquanto ele só queria uma noite de sono, uma noite onde por algumas horas ele se esquecesse que a vida lá fora da janela era muito maior que a que ele limitava dentro de quatro paredes. Sem sol, sem calor, sem nada que lhe trouxesse vida. Sabia que dali algumas horas o sol iria embora, e recomeçaria toda aquela angustia e aquela vontade doida de dar um fim explosivo no que já havia terminado, ou seja, ELE...

Carla Carina
Enviado por Carla Carina em 11/11/2008
Código do texto: T1278072
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