A escritora

A sala era pequena, daquelas que quando cheia sufoca. A garota senta na primeira fila para assistir a palestra, encosta o corpo enérgico de ansiedade, senta calmamente com o olhar parado. Um rosto infantil como uma criança a espera de sua mãe. A escritora chega cedo e logo percebe a garota da primeira fila, poderia chamar-se Helena de Machado, Hérnia de Shakespeare, Sofia... Não era. Era apenas a garota da primeira fila, sem nome, sem nada a procura de tudo que não sabia, a garota da primeira fila era comum, apenas uma espectadora, mais uma entre tantos.... Era a jovem garota da primeira fila, a velha. Ela sabia por que estava ali. De início se deu rápido. As vozes da palestrante entravam na jovem lentamente. Uma valsa de palavras com uma sonoridade certa, uma realidade sonhada, uma descoberta de tudo que sabia ser real, só uma comprovação de sua expectativa. A vida delas duas era uma, mas a distância as separava. A jovem a admirava e o encanto se fez mais presente quando se iniciou os diálogos entre as pessoas e a escritora. A diferença entre as duas era apenas o corpo, trago a palestrante pela idade. O olhar fixo da garota era um sinal para as duas. Conheciam-se?

O sinal maior foi quando a palestrante mostrou-lhe o livro e todos perceberam que ela o sortearia. E agora aquele livro não seria mais dela que nunca ganhou um sorteio na vida. A felicidade roubada, sempre foi assim a felicidade escapa de sua mão. Agora que ela pensava que a sorte estava ao seu lado. Os sussurros sobre o fato fizeram a garota agir, perdendo o sentimento, a vergonha. Levantou a voz e num gesto simples pediu o livro a escritora que a olhou, mas não a viu, mudou logo de assunto. A vergonha retorna a seu lado E agora o que era amor seria o oposto. Se ela não viu, visse com o coração, pensou que se conhecessem, pensara que quando se encontrassem se descobririam, pensara que fosse assim com todos. Os sonhos, escritos que a garota a mostraria, somente precisava de um mínimo espaço. O sorteio iniciou- se e a esperança fugindo de si, permanecendo a aversão a tudo aquilo que se chamava amor. Um amor entre duas mulheres, um amor poético que se desfez num relance, um amor quadrado e rosa com traçinhos de delicadeza. Não um amor qualquer. Um amor antigo e novo ao mesmo tempo...

DandaraOlive
Enviado por DandaraOlive em 14/11/2008
Reeditado em 19/09/2009
Código do texto: T1282859
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