A casa

Cai a casca de minha face. Desbota a cor de meus sonhos. Trinca parte de meus objetivos. Tenho vazamentos constantes em meus olhos e já não vejo pelas janelas quebradas da alma, o que resta, embaçado e turvo ainda sobra algumas cores onde imagino belezas que um dia pensei. Se entope o canal onde a criatividade e poesia corria, tenho falta de energia onde agora habita a inercia e o cansaço natural da desistência, cresceu mato em meio as flores e o sabor do amor, a cerca não se fez mais necessária, ninguém entrava ou saia daquele coração isolado. As portas não mais se trancavam, ali as fechaduras caíram e as chaves se perderam em grandes molhos de opções não vividas, apenas lembranças penduradas em um canto qualquer. As escadas de minha evolução tropeçaram onde então seria o topo de minha pobre e mesquinha ambição, minha casa, meu reino, meu eu, sou eu e mais ninguém. Comprei a casa própria, tão própria que desapropriou meus sentidos e sentimentos e nada mais se fez ali. Percebi e senti em minhas pálidas paredes a necessidade de cores, de mudar o terreno, destruir o que não mais havia serventia. Sacudi minha estrutura, foi com custo que derrubei velhas telhas de minha mente, pude então ver a lua, e pela manhã o sol que brilhava, mais força e com auxilio do vento, arranquei portas e janelas quebradas para correr e arejar a alma, eletrizei meus pensamentos e trouxe a luz a iluminar qualquer escuridão. Soprei forte e liberei o grito que desentupiu qualquer impedimento de soltar minha poesia ao mundo, e ali renasceu toda a criatividade, arranquei com minhas mãos todo e qualquer mato que fizesse sombra em meus sonhos, e plantei belas flores ali, trouxe os pássaros e cantos para próximo e então ouvi bater forte dentro de mim meu coração, que não permitiu cerca alguma, afim de que qualquer coisa o abalasse, estava pronto para isso. Que pessoas então entrassem, saíssem, e trouxessem consigo o bom da vida. Por fim, a escada que tinha fim, era só o começo desta nova construção que se erguia em tantos outros rasos, um novo homem, uma nova crença, um novo amor. Sem propriedade, e nenhuma privada, apenas o desejo, a força, do velho se fez o novo, onde havia nada, agora se podia tudo, e claro, o básico, a pessoa amada