Historieta da 1ª República Portuguesa (à minha maneira) - Parte III

A 2 de Outubro de 1910 o presidente do Conselho de Ministros, Teixeira de Sousa, recebe o presidente da República do Brasil, o marechal Hermes da Fonseca. O presidente eleito vinha no cruzador São Paulo e ficou instalado no Palácio de Belém. A revolução rebentou durante a sua estadia em Lisboa. Chegou durante a Monarquia e regressou ao Brasil na nova era da República portuguesa.
A república foi proclamada no dia 5 de Outubro em Lisboa, no largo do Município e festejada ruidosamente pela população por volta das 9 horas da manhã.
Essa data história, no entanto, assinala duas etapas distintas e simultâneas para a Primeira Repúplica: o seu início e o início do seu fim.
Vejo o novo regime, proclamado do alto da varanda do município de Lisboa por José Relvas, como um bebé recém-nascido. Frágil. Órfão de pai e de mãe. Entregue aos cuidados de um rancho de tios, padrinhos e padrastos. Cada qual querendo reclamar para si o direito de a solidificar e engrandecer. Todos desavindos quanto ao modo e às práticas de acção. O grupo de ilustres personalidades que constituiu o primeiro governo provisório da nação era um elenco de personalidades conhecidas, quer pela competência universitária e profissional, quer pela aura popular que tinham obtido na época da propaganda republicana, quando faziam oposição à monarquia. No entanto, apesar de serem homens de talento, não tinham um programa de conjunto, sem as linhas mestras nem unidade de acção.
Por tanto gostarem dela, começaram por puxar cada um para si por onde podiam, pelos braços, pelas pernas e foram-lhe dilacerando o corpo e a alma.
Para Machado Santos não sobrou nem um pedacinho da “ recém-nascida”...
Como disse Vasco Pulido Valente por palavras do presidente Teófilo Braga: “ a Carbonária entregou a revolução ao Partido com a humildade de um sapateiro que dá uma par de botas ao freguês”. Para os ilustres do PRP Machado Santos (um dos chefes dos “sapateiros”) era de uma honestidade a tua a prova mas consideravam-no intelectualmente medíocre. Tinha cumprido a sua missão. Dele já não necessitavam.
Por outras palavras, que se podiam ler na impressa da época, os heróis do campo de batalha tinham de ceder lugar aos heróis do pensamento. Assim, os “humildes”, os civis, a Associação secreta Carbonária era arredada do poder de decisão do novo regime.
Machado Santos não aceitou esta decisão de ânimo leve e cria um jornal através do qual dá voz às suas críticas aos sucessivos governos do novo regime. E governos não faltaram para ele criticar...
Quem são então os novos governantes da nação?
Teófilo Braga: Foi o primeiro presidente português. E também um dos principais problemas do governo Provisório. Formado em Direito, era um escritor e historiador respeitável. No entanto estava mais vocacionado para trabalhos de gabinete e não tinha a menor predisposição para a agitação política. Não passou de uma figura meramente decorativa sem qualquer papel conciliador entre as várias personalidades do governo. O que teria sido muito útil. Chamava aos ministros “ o bando de perus”.

António José de Almeida:
Um dos três protagonistas deste “enredo”. Era médico e dotado de grandes capacidades oratórias. Apaixonava as multidões, conquistando a alma popular. Será eleito presidente em 1919. Vai entrar em rota de colisão com Afonso Costa por ser conservador e querer uma república liberal, ordeira e respeitável. As classes mais baixas que dominavam o aparelho do partido e os tinha colocado no Terreiro do paço não lhe diziam grande coisa. Ele via a revolução como a ascensão política e económica da classe média. Para ele os funcionários públicos seriam mantidos nos seus postos. Todos tinham lugar na República independentemente de terem pertencido ao aparelho monárquico. Dizia que a competência estava em primeiro lugar e só depois o passado político.
No governo provisório da 1ª república foi-lhe confiada a pasta do Interior.
Poderíamos dar o papel deste senhor a um actor que o representasse no cinema, como por exemplo, o William Hurt.

Afonso Costa: Outro protagonista. Tragam o Daniel Day Lewis para representar a vida deste senhor por favor!
Licenciado em direito, era um dos melhores e mais bem sucedidos advogados do país. Quando entrou para o Governo assumiu a pasta da Justiça. Entrou rico e saiu pobre. Parece mesmo os políticos de hoje em dia...
Sofria de tuberculose o que o fez abandonar o país várias vezes para se ir tratar à Suiça.
Veríssimo Serrão assim o descreve: “ sem ter em conta os delírios e ódios que suscitou pela sua actuação política, importa reconhecer que o novo ministro da Justiça era uma individualidade de grande valor intelectual, com uma forte vocação reformista e sonhando dotar a República de instituições duradouras. Como escreveu um dos seus biógrafos: entre os pigmeus da republica, ele é de facto um gigante, não só pelo motivo suficiente de que em terra de cegos quem tem olho é rei, mas porque, sem contestação, o famoso político reúne predicados que em grandíssima parte legitimam as esperanças candentes dos seus entusiásticos partidários.”
Também Vasco Pulido Valente o descreve como o mais lúcido, inteligente e arguto dos políticos do regime.
Opunha-se à visão conservadora dos conservadores e moderados. Era um radical. Remodelou o Ministério da Justiça com propositada brutalidade. Para ele novo regime significava novas pessoas. Gente com espírito democrático e em quem tivesse total confiança política. Em breve o poderemos ver em plena actividade.

Bernardino Machado: Licenciado em Filosofia foi lhe atribuída a complexa pasta dos Negócios Estrangeiros, de fundamental exercício para obter o reconhecimento dos outros países. Já tinha feito parte do governo em 1893, altura em que ocupou a pasta das obras públicas. Em 1897 converte-se ao republicanismo. Começou por ser conservador talvez por ter ainda muitos contactos com elementos da monarquia e por isso partilhava as ideias de absorção de pessoas com passado realista. Com tempo viria a tornar-se mais próximo de Afonso Costa tornando-se mais radical. Também foi presidente da República duas vezes. Tornou-se sogro de Aquilino Ribeiro quando este casa em segundas núpcias (após enviuvar da 1ª esposa) com a sua filha Jerónima.
Tragam o Ben Kingsley para fazer de Bernardino e plantem-lhe uma farfalhuda bigodaça, e a Jennifer Connely para interpretar a Jerónima ( que raio de nome!).
Para o Aquilino só poderá ser um actor português. Venha o Hugo Sequeira, pois claro!

Faziam ainda parte do Governos provisório, António Luís Gomes (Obras Públicas); Correia Barreto e Azevedo Gomes (pastas militares); José Relvas (Finanças) após a desistência de Basílio Teles.

E agora acção!



AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 15/11/2008
Reeditado em 27/03/2009
Código do texto: T1284721
Classificação de conteúdo: seguro