DIA DE PRINCESA

Dona Carola sempre comedida e atenta com suas obrigações religiosas e domésticas, resolveu dar uma volta para espairecer um pouco, respirar.

Andou tanto que perdeu a hora, quando percebeu, sua barriga já avisava da hora do almoço.

Entre as muitas opções para comer, uma em especial chamou sua atenção, uma placa que, entre outras coisas, dizia: “Almoce com 50% de desconto, após as 15h”. Não teve o que pensar, era esse o lugar que apaziguaria sua fome, olhou para o relógio, não era nem uma da tarde ainda. Foi dar mais uma volta e retornarias as 15h.

Retornou rastejante, com a força que sua adiposidade ainda permitia, foi para o restaurante, esperou mais um minuto, sorriu, pegou a bandeja como se estivesse enchendo de pedras preciosas seu prato, continuou a abastecê-lo, pôs uma posta de peixe, muito torresmo, linguiça, camarão, um pedaço de pamonha, cinco ovos de codorna com molho por cima, empadão com uma coisa verde por dentro, feijoada, palmito, almôndega, bacalhau, arroz com açafrão, lasanha e um pedaço de mamão para a digestão, tudo com muito azeite. Pegou um refrigerante 600ml e foi para a balança pesar a comida, o numero gritou aos seus olhos, uma fortuna! Ela riu amarelo para a funcionária e disse:

- Oh minha filha, você errou o valor, já passaram das 15h.

-Sim senhora, respondeu a funcionária, sendo que hoje é sábado e sábado é valor normal o dia todo.

- Mas deveria estar escrito em algum lugar isso.

- Está escrito na placa logo na entrada.

- Ih! É mesmo. Mas! Mas! Está bem!

Sentou, pôs a montanha de comida na sua frente, começou a pensar em uma solução para esse problema, ligou pedindo um empréstimo de socorro para uns amigos, mas ninguém estava disponível, os créditos do seu celular pré-pago estavam no fim, chorou, orou, orou e orou muito, uma hora depois, nada havia sido comido. Levantou, foi até o caixa com as lágrimas caindo e disse: moça! Eu não tenho dinheiro!

- Aceitamos cartões, resolutiva respondeu.

Dona carola lembrou que estava com o seu cartão, conseguiu dar ao menos um leve sorriso. Torceu para que tivesse limite suficiente. O cartão passou! Aleluia! A tensão foi tanta, que não conseguiu comer nada.

Ligou para o pastor Eriberto, seu marido, contou tudo, disse que não ligou para ele, pois não queria dar o braço a torcer.

- Mas meu amor! E o dinheiro do mercado que estava na sua carteira? Disse o marido sem entender direito.

A mulher ficou ainda mais vermelha de vergonha, mandou um beijo para o maridão e foi para o mercado.

Depois de muitas cotoveladas naquele lugar lotado, conseguiu chegar ao caixa.

- Foi até divertido tudo isso que aconteceu!

Ensaiou mais uma risadinha, tudo acabou dando “certo”. Pegou as sacolas, colocou no carrinho, pegou a carteira, abriu, procurou, procurou e procurou, mas nada encontrou, revirou a bolsa, os bolsos, até a meia tirou, mas não adiantou nada, tentou o cartão de crédito, não tinha mais limite. Com muita vergonha e na presença de uma multidão, largou todas as compras para traz, abaixou a cabeça e foi para casa sem desviar um centímetro do caminho, vai que me acontece algo pior, pegou uma lotação, partiu para casa, não pensava em mais nada, só bufava e lamentava ter levantado da cama, desceu, tinha mais um bom pedaço de caminhada até o seu destino. Começou a chover, ao menos um guarda-chuva havia em sua bolsa, pegou o objeto com toda calma do mundo, levantou as mãos e o abriu, ele cumpriu sua função, parou de cair água em sua cabeça, no lugar da água, começou a cair dinheiro, era o dinheiro das compras que estava escondido no guarda-chuva, recolheu com muita força e raiva todo o dinheiro, fechou o falso cofre, continuou a caminhada embaixo de chuva mesmo.

Chegou à casa toda ensopada, deu uma bronca no cachorro, soltou o passarinho da gaiola, colocou os sete filhos de castigo. Foi correndo para o quarto, pegou a bíblia, abriu no libro de Jó, depois de uma longa leitura, foi para a igreja bater um papo com Deus.

Sérgio Souza
Enviado por Sérgio Souza em 15/11/2008
Reeditado em 17/01/2021
Código do texto: T1285049
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