O MENTIROSO

Dia desses, lendo um jornal, encontrei algumas observações de Ariano Suassuna. Em uma delas, falava de sua simpatia pelo mentiroso. Segundo ele, o mentiroso por vocação é um incorformado com o que o cotidiano não deixa acontecer.

Afirmam, seguidamente, que conto causos. Uma afirmação que “quase me ofende”. Escrevo histórias do cotidiano e, é verdade, até observei no meu perfil, aumento um pouco. Raramente conto um causo, porém, de vez em quando, ...

Conto o que vejo e falam sem pedir segredo. Poderia não contar, nem dar uma retocada na história. Você conhece o Geraldo? Não, é claro, mas alguém com o perfil do moço...

O Geraldo ataca todas e faz um sucesso tão extraordinário, segundo ele, que lembra um rapaz que cresceu na minha turma e dizia ganhar todas que tinha vontade de ganhar, o Birani. Quando um de nós falava que tinha se dado bem, alguém sempre dizia: - É um Birani!

Acontece que o Geraldo é um “comum”, não tem absolutamente nada que possa fazer crer que encante a mulherada, e vive se envolvendo com umas donas de beleza discutível. Magro, um metro e setenta, e olha lá, olho castanho, cabelo castanho, vive de empregado, tem um carrinho ponto zero com quase uma década, conta bancária porque a empresa exige, ensino médio incompleto e mora numa pequena cidade do interior distante da capital.

Diz que para certas coisas nunca precisou de incentivo. Corriqueiro é, num desempenho normal, a parceira questionar:

- Tomou viagra?

Um gavola, um falastrão, um conversador, e gosta de contar particularidades de suas noitadas. Diz que uma mulher que fique com ele, uma só vez que seja, jamais esquece.

E tinha um sonho. Uma noite na “casa noturna” mais famosa da Capital.

Juntou dinheiro um ano, que disseram a ele que uma noite custava caro, e se esbaldou, após debatida pechincha, nos braços de uma loira de farmácia que quase fez com que se convencesse de que era lindo. E que desempenho, conta ele. A moça disse que nunca tinha visto algo igual, e olha que não era veterana no ramo mas tinha uma lista de clientes bem significativa como parâmetro de comparação.

Gostou tanto que voltou para sua cidade, de ônibus, pensando que o seu sonho de “uma noite” era um sonho muito modesto.

Fez um esforço grande para se capitalizar e voltou quase um ano depois.

Entrou pesquisando o ambiente, que um interiorano precisa tempo para se adaptar, e sentou sem encontrar quem conhecesse, pensando na loira que havia povoado seus sonhos nos últimos meses. Não ficou muito tempo só, uma morenaça, padrão capa da playboy, como ele qualificava para os amigos as moças do lugar, sentou ao seu lado e puxou conversa.

Não demorou muito, a jovem pediu licença para ir ao toalete e o deixou sozinho, quando a voz suave da moça sentada à mesa localizada as suas costas, sussurrou:

- Ge...ralllll...doooo, Ge...ralllll... dooooo, …