Saudades do inverno

Já se vai o último dia de outubro, e nesta cidade onde resido a oito meses, o calor do verão já se anuncia maldosamente contra o bom serrano dissidente de sua terra. Por mais que neguem os cientistas e um ou outro nordestino que conheço, São Leopoldo é, provavelmente, o lugar mais quente do mundo.

É esparramado no sofá, ladeado pelo ventilador, que vêm à minha mente as melhores lembranças do último inverno, de férias na terrinha, em cima da serra, lendo em frente ao fogão à lenha, ladeado então pelas xícaras de café, numa inigualável sensação de conforto.

Nos finais de semana, acumulava alguns casacos, blusões e jaquetas, assessorados por toucas, luvas e cachecóis, e saia para encontrar com os amigos. E se engana quem pensa que uma cerveja não desce bem no inverno. Se o local estiver bem aquecido, com uma lareira ou fogão, e bastante calor humano, fica pra lá de especial.

É no inverno que as mulheres expõem sua verdadeira beleza, seu charme e bom gosto. No verão, quando todas estão vestindo as roupas da moda, salientam-se as curvas e as protuberâncias, mas parece que o mundo se divide apenas entre as bonitas e as não-bonitas, e todas ficam bem parecidas. No inverno, as mulheres sabem como se diferenciar e se mostrar únicas. E as conquistas desta época sempre me parecem mais memoráveis, e não por caso, meus relacionamentos mais duradouros sempre começaram por volta de julho, agosto ou setembro.

O blues e o jazz casam melhor com o frio, e também o samba-canção. O calor é mais para samba-enredo e pagode, favorece o movimento, desfavorece a contemplação.

Prefiro o inverno.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 18/11/2008
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