O Sabor da Infância
 
            As fagulhas que ainda me remetem a infância, têm o cheiro de fruto tirardo do pé. Aquele fruto roxeado e suculento, um jambo pós florada, pronto pra colheita. O doce sabor da infância que nos trás ao nosso mundo, fazendo-nos felizes por alguns instantes
            Alegrias bobas que são o mundo na vida de uma criança, em que corre pelo quintal em pleno sol de pés descalços, não causará nenhuma doença, mas sim fortalecerá a imunidade. Em que brincar de roda com os amigos, ainda não se passa da maior felicidade de um dia sem qualquer comemoração.
            Em lembro que quando pequena, minha melhor amiga era minha prima, que era uma quase irmã siamesa minha. Viviamos coladas, mesmo estudando em colégios diferentes, tinhamos o ritual do abraço quando nos encontravamos. Ela morava na rua vizinha, mas todo dia, quando o sol ainda estava alto eu a esperava na batente da porta de casa, esperando o momento de poder revê-la. Quando ela a mim avistava, ao dobrar, da esquina, se era posta a corrida, para o caloroso abraço de duas amigas.
            Abraço, o unir de corpos independentes que demonstram um carinho e acalentar imenso. Nosso encontro era engraçado, parece que faziam seculos que não nos viamos. Nossas mães riam, sem acreditar que as duas menininhas da familia eram tão dramaticas assim. Era uma forma de preencher o vazio que cada uma de nós tinhamos.
            Uma tarde regada a recorte de revistas e desenhos animados. Dançavamos a musica que tocasse e comiamos bolinhos de chuva com leite, no lance da tarde. Nossas bonecas eram irmãs e nelas depositavamos nossos sonhos. Uma vida cheia de felicidades e realizações, doces meninas que ainda sonhavam.
            Hoje resolvi rever minha fotos e lembraças de infância. O tempo passou, a prima-amiga cresceu. Eu tenho minhas responsabilidades, que são tantas. Ela também tem as dela. Mas pelo menos um dia no ano, nós temos um momento nosso, doce de recordações. Ela nunca esqueçe o dia do meu aniversário, mas eu sempre esqueço o dela. E nessa simbiose da nossa união ainda amiga de primas, deixo minha doce nostalgia de saber que crescemos. Mas, que muito em breve, nossas filhas reviverão nosso passado, tão lindo e saboroso, igual a bolinho de chuva com leite.                    
                                                                                                                         
Samara Lopes
Enviado por Samara Lopes em 19/11/2008
Código do texto: T1292855
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