LENTES DE CONTATO


              Não conheço melhor invenção para quem enxerga bem do que lentes de contato. Elas são tão delicadas, tão transparentes e tão molinhas, portanto, ideais para quem tem boa visão. É claro que usar lentes facilita muito a nossa vida. Principalmente hoje em dia, com toda a tecnologia das descartáveis, inclusive as coloridas, bifocais, multi-focais...

              Gosto dos óculos sempre tão charmosos e bonitos. Há ainda o fato de que podemos nos esconder atrás de um par de óculos. Mas eles não acompanham o movimento dos olhos, sujam, embaçam, riscam. Nós, pessoas mais velhas, estamos sempre procurando os óculos e existe o dilema cruel: “ponho e tiro os óculos, guardando-os a cada vez no estojinho ou uso aquela odiosa correntinha e fico com os óculos pendurados no pescoço?” Há outras questões ainda piores. Já derrubei os óculos da mesa de cabeceira enquanto dormia e pisei sobre eles ao sair da cama pela manhã, ainda meio sonolenta (com grande prejuízo, diga-se).

             Mas essas maravilhas, as lentes de contato são a minha alegria e o meu desespero. Sofro de ambliopia no olho esquerdo. Com lentes a minha visão é muito superior; então vamos lá. Estojinhos, quantos? Vários, porque nunca se sabe se numa viagem saímos com as lentes e esquecemos do estojo. Quando chegamos em casa ou dormimos com as lentes (nada aconselhável), ou jogamos as lentes fora (muito dispendioso quando são novas). Atualmente me arrisco a deixá-las em xícaras de café até o dia seguinte, quando então irei às compras. Procuro sempre escolher um lugar adequado para que ninguém venha a bebê-las... Líquidos de limpeza e colírios (muitos) porque seria insano tirar as lentes se não estiverem bem umedecidas. Mas esquecimentos ocorrem e nesse caso entre ferir os olhos e dormir com as lentes, escolhe-se dormir com elas.

              O ritual é completo e é necessário formar hábitos, não esquecer dos detalhes. Protetor de pia (já desisti); uso mesmo uma toalha, clara, bem aberta (ninguém que está sem lentes, encontra uma lente numa toalha escura...). Há que lavar bem as mãos, pingar colírio, pegar a lente dentro do estojo e colocar na palma da mão para secar um pouco. È claro que é preciso certa prática para pegar uma coisa invisível, que quase não percebemos com o tato, e ter certeza de que pegamos, mesmo. Aquilo pode ser enganoso. Pensamos que pegamos, mas não pegamos. Caiu... onde, se não vemos? Pode ser na pedra, na cuba... pode ser que ficou lá no estojo mesmo e nem veio na ponta do dedo... pode ser que caiu em algum lugar misterioso e desapareceu para sempre...mesmo porque se demorarmos para achá-la, ela resseca e já não serve mais para uso... Ainda há outros dois pequenos problemas : quando já coloquei a lente no olho direito, a visão já está quase satisfatória, o que me impede de perceber que penso que coloquei a lente no olho esquerdo, mas não coloquei, porque quando vou retirar, ela não está lá...ou... quando penso que retirei cada lente e a coloquei no estojo, mas pela manhã, quando vou usá-la, idem; perdeu-se no caminho e não percebi.

             Antigamente, quando perdia uma lente, saía angustiada em busca dos óculos, deixando o banheiro em quarentena até que voltasse. Hoje descobri que é melhor ter os óculos à mão. Afinal, são aparatos indispensáveis...