Espelhos e Retratos...

Espelhos e Retratos...

Tentando tocar o intocável me surpreendi com algumas fotografias, alguns olhares, gestos, lugares, pessoas até.

Por onde andam? Ainda existem?

São revelações assustadoras. Até onde minha memória consegue buscar a lembrança... as minhas primeiras lembranças? - Eu nem lembro do meu primeiro passo, foi algo tão importante.. só murmurinhos de que vó Ditinha fez simpatia e cortou o medo, e será que foi esse o meu primeiro medo?

Ninguém lembra dos meus dias, meus primeiros dias, e quando lembram são apenas fragmentos, não conhecem a essência.

E vivo me descobrindo, na última visita que fiz a meus pais, descobri que meu Pai não me visitou no meu primeiro dia de vida, me conheceu dentro do ônibus que me conduzia para casa, ele disse que meus olhos eram grandes e brilhantes, e naquele instante ele percebeu que eu era menina.

Um homem digno de ser chamado de homem, quanta saudade das vezes que ele chegava da fazenda, todo sujo de serragem, e eu pedia para que me levantasse lá no alto, até hoje preciso que ele me levante, existem coisas que só do alto posso enxergar, só do seu alto Pai.

Eu preciso resgatar os meus dias, tenho urgência!

A primeira lembrança que tenho é de quando tinha quase 04 anos, minha mãe foi ao hospital ganhar o 3º filho, quando eles retornaram pude conhecer o tão esperado menino que colocaram o nome de Carlos Fagner, meu irmão! Quis pegá-lo e a minha mãe o colocou nos meus braços, usava uma manta azul ... depois disso não me lembro de quase nada... Quando vejo os retratos da minha vida, não me reconheço em nenhum, a mulher que sou hoje se recusa a acreditar que um dia foi dócil, meiga, romântica até.

Os retratos, os retratos que não retratam nada, os espelhos? Eles me mostram quem sou externamente, e de vez em quando me recuso a aceitar o que vejo: Uma mulher, sem história, sem passado, sem amor, sem lembranças...

Acho que é isso... Uma mulher sem lembranças...

Valéria Rosa