11 RADIOUVINTE

Faz bom tempo que me bateu à vista, por acaso, num dos papéis que inundam minha vida, este neologismo: “radiouvinte”. Ex-neologismo, o melhor seria dizê-lo, já agora. Achei o termo carismático, sonoro, aplicável à mania que pratico, que é a neura de ouvir rádio. Mas rádio-AM, de preferência, lá onde o papo rima de frente, na mesa do locutor. Aí, de escritório montado, a gente vira o público e pode deitar falação, ser a palmatória do mundo.

Não sei se algum escriba maluco anda interessado em pesquisar sobre o exotismo alheio, os cacoetes. De qualquer modo, saibam os futuros biógrafos de anônimos sem importância que sou ligado a um pé de rádio, dependendo de seu conteúdo e, mais ainda, do plá do comunicador.

Sempre que me desponta uma clareira no matagal do quotidiano, lá estou eu: radiouvinte. Em havendo uma lacuna na coisa que faço, e que chamam de lecionar, respaldado no ócio de ler e ler, estou lá, compulsoriamente, na sintonia vespertina do Narcélio Limaverde. Uma feita, sem temor de errar, disse-lhe que “filho de gato gatinho é”. Disse-lhe no ar, para quem teve bons ouvidos. Todos sabem que o velho e saudoso José Limaverde, pai, o de “coisas que o tempo levou”, foi um pioneiro de marca.

Ouço (ai, eu ouvia) rádio todo dia. Gosto. Há horários que são seções exclusivas do meu exíguo cardápio. Boto guarita de espera em certos horários. De manhã, por exemplo, quando posso, agenda das minhas ouças vai para o Nonato Albuquerque. Também fui aficionado, certa fase, nos caíres de tarde, do Ferreira Aragão.

Ao meio-dia, sem falta, boto escuta na eloquência do doutor Cid Carvalho. E, à tarde, pelos meados desta, nem se fala. Fico de ouvidos grudados na pedagogia do Narcélio Limaverde, este, sem dúvida, um ícone da radiodifusão nacional. Mas para que fui citar nomes, ãhhh, se ainda resta um listão de bons comunicadores, aqui, e aí, no rol deles, o meu aderente Juarez Silveira? E do Paulo Oliveira, ãhhhh, e do Alan Neto e sua equipe esportiva, o que vou dizer destes titãs da comunicação alencarina?

Fazendo cá minhas coisas, ligo o aparelho, aciono o ponteiro no dial. Estico-me no ar, opino, dou pitaco, porém somente em alguns programas, que elejo. Há tempos, contudo, já por outros poréns, tenho encostado a militância nos microfones. Antes, difícil era eu rarear em emitir um parecer.

Além do quê, sempre me vinha, ainda, aquela corda do comunicador: “Vocês é que nos ajudam a fazer este programa.” E ao pôr-do-sol, às sextas, quando o Ferreira fazia seu programa, ao vivo, lá da Praça do Ferreira, ele me botava tocaia e eu desabotoava o verbo em cima da canalhice da política. Pelo telefone, ah!..., seu Camilo Santana, radiouvinte maior. Este é imbatível em debulhar verdades: um Radiouvinte Honoris Causa. Tem competência.

Fort., 22/11/2008.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 22/11/2008
Reeditado em 02/03/2010
Código do texto: T1297467
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