BEBIDAS E FODIDAS

A cidade em que nasci e me criei - Macau, no interior do Rio Grande do Norte - tem uma tradição forte entre os bêbados, boêmios, vagabundos e pinguços. Que é ir ao mercado pela manhã bem cedo, mas bem cedo mesmo, depois de uma farra, comer cuscuz com carne bode. Xi... Nem conto meus perrengues já das vezes que cheguei bêbado e mal trapilha no mercado para deliciar desse prato típico.

Certa vez cheguei embriagado na banca de dona Maria do bode e pedi um pratão daqueles! Comecei a comer, mas me vi imerso no porre e mergulhei antes de terminar a refeição com a cara no prato à dormir. Acordei já as 10 da manhã com a dona Maria me chamando, pois iria fechar o barraco. Isso, eu todo babado e com a cara melada de cuscuz e gracha da gordura do bode!

Ah, meu histórico com a birita é recheado... Cabarés, boates, viagens... Até que numa dessas viagens só lembro que acordei já com o carro capotando e eu dizendo: vou morrer! Não morri, mas me fodi. E disse: se esse acidente me deixar mais de dois meses parado numa cama, acabo com as farras. E é o que está acontecendo. Farras jamais!

Mas as lembranças...

Me lembro da vez em que acordei todo cagado com uma gorda ao meu lado. E ela roncava como uma serraria. Tudo num quarto de motel bem vagabundo. Eu não tinha dinheiro pra pagar. Deixei a gorda dormindo e capei o gato embora. Disse que ela pagava e que tinha deixado o dinheiro no quarto. Quando eu penso que estava tudo certo, me aparece essa gorda toda “desaprontada” na porta de minha casa me pedindo dinheiro pois ela havia deixado o celular empenhado no motel. Eu dei, pois não aguentava mais ver aquele projeto de bubassauro na minha frente em pleno século XXI.

Outra vez, num cabaré desses qualquer, a profissional do sexo, vulgo quenga, me pede pra pagar uma dose de campari. Eu vou e mando ela pedir por escrito. Ela diz que não sabe escrever. Eu retruco e digo com zombaria: você não sabe escrever, quer beber campari, rapariga! Sem falar que num cabaré nunca é campari. É sempre mazile rosê; quando não é “kisuki” de groselha. Ainda por cima, cobram o preço de um 18 anos. Meu compadre, minha comadre, essa mulher me sentou-lhe a mão na cara, que, de supetão, quebrei-lhe a garrafa de cerveja na sua cabeça. Já viu, né? Fui parar na delegacia sendo autuado como caso de violência domestica da luz vermelha. Mas o delegado me soltou rápido, ele também já tivera essa vontade. Uma vez que essa mesma prostituta, vulgo quenga, disse a mulher dele que ele a devia um programa de “boquete”. Ele me deu os parabéns!

Teve muitos casos: brigas em bailes, danças com idosas... No reveillon - de 1999 para o ano 2000 - eu me encontrei parado bêbado em frente a uma emissora de rádio e queria porque queria avisar para os ouvintes, que o mundo não havia acabado. Mais, eu queria mais uma dose de conhaque... A sinuca apostando, os pagodes na praia da redinha em natal, Camapum em Macau...

... Olhe, quer visitar o inferno? Seja jovem e invente de beber por aí mundo a fora!

A cachaça é o calvário dos que se fazem paranóicos sem paranóia!

E sabe quando tornarei a beber? Mais nunca! Cansei do inferno... Quero apenas água gelada e doce de goiaba pra curar minha ressaca! E a ressaca moral?... O tempo apaga.

Ah, o tempo apaga! Mas aquela prostituta e aquela gorda nunca se esquecerão de mim! O tempo não apaga nada porra nenhuma! olha só... Elas também não saem da minha cabeça.

Manel Clélio (Kekel)
Enviado por Manel Clélio (Kekel) em 23/11/2008
Reeditado em 03/05/2011
Código do texto: T1298663
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.