Crônica mais que natalina

Edson Gonçalves Ferreira

Domingo!... Estou sozinho, mas não a sós, porque sei que, longe, no Oriente, há uma criancinha, desprotegida, chamada Pedro Augusto que nasceu, ontem, e é meu afilhado. Ao lado dele, está a mãe, Sônia Ortega, a Nossa Senhora do Recanto e Beto, o São José nosso com os pastorinhos João Gabriel e Lucas, irmãos do recém-nascido e, além disso, existem vocês que me lêem, fora a minha família enorme, enooooorme que, hoje, descansa, porque ninguém é de ferro.

O motivo desta crônica é a esperança neste momento em que o mundo passa por uma crise desesperadora e, nos Estados Unidos, pela primeira vez, assumirá um presidente negro. As profecias estão sendo cumpridas. Fico pensando quando teremos também o primeiro papa latino-americano ou negro. Hoje, escutei Neusa Borges, atriz da Globo, falando sobre o orgulho dela de ser negra e dizendo que afro-americano é um nome que esconde preconceito. Ela não escondia a sua decepção e ressaltou que, no Brasil, discriminação existe e como. O Menino Jesus já nasceu perseguido, lembram?

Eu abomino qualquer tipo de discriminação. A mais cruel que existe é a financeira que divide a chamada sociedade (nada de society, pois elite, segundo Aurélio, é "o que há de melhor numa sociedade ou num grupo social". Se assim o é, cada camada social tem a sua "elite", porque sangue azul, meus amores, não existe. Que vontade de ouvir a Elis Regina cantando "Alô, alô, marciano..." Essa mulher era fantástica!

Sabia demais e deixou um legado fantástico. Não sei porque a Maria Rita não solta a franga e canta que nem a mãe e esquece dos rótulos.

Ela nasceu com o registro vocal e a ginga da mãe Elis, devia aproveitar, não?

Voltando a vaca fria, a crise está pegando quem não devia pagar o pato, ou seja, a classe mais pobre. Sim, porque, todas as vezes que há recessão, quem leva tinta primeiro são os pobres. Lembro-me de uma frase da gramática, quando ensina-se o que é

anacoluto. Não pense que anacoluto é para comer. Anacoluto é quando

colocamos uma palavra sem função sintática na oração. O exemplo é: "Pobre, quando (ele) come frango, um dos dois está doente." Viram, que tristeza, quem inventou essa frase, colocou a palavra "pobre" que seria o sujeito, sem função sintática na oração.

Sei que muitos de vocês estão perguntando o porquê eu intitulei esta crônica mais que natalina. Natal é tempo de reflexão, de renascer e só podemos renascer se refletirmos sobre o que somos e o que seremos. O nascimento de Pedro Augusto me levou a pensar em como será o mundo quando ele tiver 18 anos. Será que a camada de ozônio já terá derretido a camada polar e haverá falta de água potável no mundo. Nós somos tão egoistas que pensamos só no hoje e não no amanhã, depois que tivermos partido.

Esta crônica está ficando grande demais e, por isso, volto à gramática, para encerrar. Ao estudar as orações, temos três tipos de sujeito. O sujeito agente que comete a ação e, na sociedade, quem comete mais ações são as pessoas da elite ou os ladrões e assassinos.

O sujeito paciente é aquele que sofre as ações e, neste momento, todos nós somos sujeitos pacientes da crise mundial, cruz credo, ave maria, gratia plena. Agora, existem os sujeitos agentes e pacientes que praticam e sofrem as ações -- coitadinhos de alguns -- pois, nesta crise, são os milionários que não souberam poupar o dinheiro e, agora, estão querendo usar os nossos fundos para sair do prejuizo. Que raiva, gente, eu ia escrever uma crônica mais suave, mas a realidade é mais dura que pão dormido. Você já comeu? Se precisar, não se importe, molhando no café fica uma gostosura. Fui.

Divinópolis, 22.11.08

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 23/11/2008
Reeditado em 23/11/2008
Código do texto: T1299167
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