Tatuzinho de Jardim e as Estrelas

Hoje sei que o ontem é apenas mais um vinco de preocupação na minha testa, e que o mesmo acontecerá amanhã com hoje. Mas o estranho é que todas as promessas quebradas que já me fiz, são estilhaços por dentro.

Acordei com muita vontade de dormir um pouco mais; antes de me atrasar levantei tão bruscamente que vi estrelas. Quando era criança adorava essa sensação, apertava os olhos com força, olhava direto para o sol pra ver estrelas caindo a mão. Pensava nisso enquanto passava pela Angelo Simões com a Álvaro Ribeiro, e me dei conta que agora os óculos escuros me impedem de ver estrelas diurnas. O farol fechou e parada no trânsito olhei ao redor, o casebre da direita tinha o quintal bem frequentado, quatro senhoras bem idosas, duas em cadeiras de rodas, e dois senhores também estavam aquecendo as finas pernas, e longos dedos trêmulos ao sol. Seus moletons cinzas surrados, meias compridas frouxas, e toquinhas de lã faziam do suave outono um frio do Alaska. Pelas suas testas, tiveram muitos dias de preocupações. Mas agora estendiam os corpos desnutres, semi-mortos ao sol, não sorriam ou falavam, se quer entre olhavam-se, mas fechavam os olhos quando expunham o rosto na direção do sol. Será que contavam estrelinhas?

O sinal abriu; segui meu rumo introspectivamente, divagando pensamentos alterandos entre as estrelas, os óculos de sol da minha vida, e sobre a velhice.

As vezes tenho acessos de entender as leis das estrelas ou Astronomia e quero absorver o Universo, a Teoria da Relatividade e Buracos Negros. Concordo com a idéia de que o Universo não existe, mas sim o Multiverso, que acopla outros universos e assim como bolas de sabão suspensas no mar de estrelas tridimensional, estão os planetas a flutuar.

Mas quando olho pra dentro da minha carapaça dura de crustáceo, vejo um tatuzinho de jardim querendo se esconder dos toques de outros mundos, isso é quando sou meu próprio Buraco Negro. Criando vincos na testa com o amanhã que ainda nem veio, temendo o desgaste do envelhecimento dessa frágil embalagem da minha alma; chamada corpo. Tentando muitas vezes me salvar de mim mesmo.

Talvez eu devesse parar de pretender entender a dádiva da vida que me foi concedida, e de me enganar achando que fiz algo sulficientemente bom pra ter tudo que Deus me concede. Crer que nesse Multiverso infinito também sou uma criação estelar de poera cósmica eterna.

Alias
Enviado por Alias em 24/11/2008
Reeditado em 25/11/2008
Código do texto: T1301559
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