Sobre Heróis

Já era quase fim de expediente na empresa de Papel Branco em Folha Celulose, quando Michael, supervisor do departamento de vendas, pegou um de seus funcionários com o telefone no gancho e só papel e cola na mesa. Respirou, e Irritado se dirigiu a seu funcionário:

- Boa Hora, para voltar a pré-escola Almeida?

-Desculpa Michael, mas estou pensando no futuro do meu garoto, que acaba de nascer.

Responde, o funcionário, com estranha naturalidade para o seu supervisor, que apesar de não entender muito bem, o que diabos o tal do Almeida queria fazer, lembrava que ele a semanas tinha tirado sua licença paternidade. Porém isso não era desculpa ou motivo para tal relaxamento, Almeida estaria em seus relatórios e iria ouvir poucas e boas, e como iria...

-Cuidando do futuro de seu filho? Almeida, você não tem vergonha na cara? Tens 38 anos, tens agora seu primeiro filho, e quer dar uma de romântico? Ora, homem, já nem vende 30 resmas por dia, e quer fazer montagens de papel pro seu filhinho? Diga pro seu filhinho, que isso entrará no relatório, e espero que o Chefe lhe dê uma boa de uma punição!

Almeida, ouviu cada frase, digeriu cada significado de sua miserável vida, e só depois do ultimo esbaforejo, de seu supervisor, respondeu.

-Michael, eu peguei uma caneta, um papel e hoje pensei em montar um herói para o meu filho, um de papel e com até alguns de erros de colagem, mas um que seja colorido o suficiente para alegrar cada sonho idiota e fracassado dele. Você construiu seus herói em cima de papel-moeda, só não usou tesoura e colas, porém de forma diferentes construímos nossos heróis, transferimos nossas vontades, sonhamos com nossas realizações. e idealizamos todo tipo de coisa que nos torna vencedores, enquanto pensamos em ser heróis para nossas familias, estudantes querem ser heróis da revolução, e eu te pergunto Michael quem tem a razão?

Michael, olhou com máximo estranhamento que podia, riu com tanta bobagem, e foi para seu escritório guardar suas coisas, não conseguia parar de rir, e pensar em piadas para contar para seu novo encontro. Foi quando o barulho da arma disparada o surpreendeu, Michael correu para o departamento de vendedores, e ainda sem acreditar, viu no chão Simone, a jovem estagiária que tinha um talento para vendas, que sabia fazer um capuchinho na medida exata e de belas pernas, no chão com um tiro no peito, como num daqueles episódios de filmes policiais que ele tanto gostava de ver. E enquanto Michael tentava entender alguma coisa, a policia já tinha retirado o Almeida e todas as horas que se passaram em um piscar de olhos não pareciam explicar o que faria Almeida disparar a arma sobre aquela menina, será que ele teria sido tão duro com seu vendedor? eles tinham um caso, quem sabe? E seu filho por quem parecia ter tanto apreço?

Nada nunca iria explicar a Michael, que entre todas os sonhos, potências e falseamentos, nada nunca constrói heróis com tanto esmero e perfeição quanto o acre aroma do sangue dos inocentes.