Meu Deus, por que me abandonaste?

Sonhos e flores e futuros e sorrisos. Alguma tristezazinha para dar certo tempero, que a vida só de sorrisos não existe. O que fazia, o que pensava nos seus devaneios de adolescente quando os gritos de desespero superaram as gargalhadas lascivas dos monstros que saciaram seus instintos no corpo escondido em opressores turbantes?

Aisha tinha treze anos e talvez fosse bela e desajeitada como toda adolescente. E foi estuprada por três homens. Impossível saber como se sentiu. Impossível imaginar o que pensou.

Impossível imaginar o que aconteceu com ela depois!

Perder a virgindade é desonra; por estupro a desonra é maior. Sim, para a vítima. Em algum obscuro pedaço do Alcorão, buscam apoio para o que se transforma em Lei, pois está no livro sagrado. No mesmo Alcorão que, entre outros conselhos de caridade, determina que um visitante deve sempre ser bem tratado e que Alá condena a violência.

Mas a mulher é um ser inferior e, quando o pai disse que ela fora estuprada, foi detida. Julgada por adultério (!!!!) foi condenada à pena de morte! Mas a crueldade e a injustiça não pararam aí, a pena: apedrejamento. A sentença foi cumprida num local público, por 50 pessoas, diante de mil espectadores e os poucos que protestam foram agredidos. Um menino foi morto.

Nenhum dos estupradores foi punido.

Não aconteceu há séculos: foi agora, no dia 27 de outubro de 2008, na Somália. Pior: o ato, conforme seus executores, foi cumprimento das ordens de Deus, pois “assim está escrito”. Existe algo de profundamente maligno, vil, sujo, covarde na opressão da mulher. Existe algo de profundamente maligno, vil, sujo, covarde na opressão religiosa, não importa de onde venha ou onde se imponha: num país, numa cidade, numa família.

Meu Deus, por que me abandonaste à fúria ignorante dos fanáticos? À maldade implícita na burrice? À sanha dos intelectualmente cegos? Quantas cruzes ainda precisarão ser erguidas? Quantos turbantes manchados? Quantos “shalons” calados com explosões? Quantos Budas profanados? Por quê? Para quê?