O OCEANO COMO CÚMPLICE
Blues nas Ilhas do Sul ou O Oceano como Cúmplice
Observo o oceano antes do amanhecer. Caminho pela areia úmida que me presenteia alguns grãos mais espessos, pedrinhas e conchas a roçarem de leve minha pele. O mar está calmo, sincronizado com o bem estar que me provoca. Maré baixa ainda. A praia deserta. O silêncio. A brisa. Um resto de lua.
Nenhum gesto é necessário. Além do movimento do andar. Passo a passo, nada mais. Lentamente o sol vai surgindo de entre nuvens e as tinge de rosa. O oceano as reflete e sorri. Talvez também lhe agrade brindar ao dia.
O aroma inconfundível da madrugada perfuma o ar. Noite e dia se encontram, dando lugar um ao outro com suavidade. Não se rebelam com o ciclo cósmico. Sabem do instante de cada um.
Meu olhar pousa na primeira gaivota, que corresponde prontamente. Mas não alça vôo, como era de se esperar. Põe-se a pular elegantemente no cumprimento de seu destino.
Involuntariamente meus passos ficam mais apressados. Meus olhos percorrem com urgência o céu, implacável. Busco um pedido à estrela da manhã e várias possibilidades me ocorrem.
Por um momento parece-me difícil eleger um único desejo a ser contemplado. Peço uma sugestão à gaivota. Ela me lança uma piscada marota. Exibe sua presa e seu adeus. Posso jamais reencontra-la. Mas sempre será lembrada nas madrugadas que me esperam à beira do mar nas ilhas do sul.
O sentido da existência. Minha insistente busca persiste ao longo dos dias.
Ocasos e acasos.
Segredos que confidencio ao oceano.
Meu cúmplice, através de uma quebra de onda, envia-me a mensagem secular.
O espelho do tempo a refletir infinitamente áureas e crepúsculos de encantos e des.