Primeira Vez.

Chegou o final de semana, me trazendo um estado gripal daqueles que joga na cama, martela a cabeça, tritura os ossos e ferve o cérebro. Não sou do tipo de fraquejar com pouca coisa; sou relutante, insistente com minhas forças e não me dou por vencida. Quando sinto um alívio, levanto e vou à luta. Tive um evento à noite, que não quis perder, fui. Mas quem disse que era pouca coisa? Estava além de minhas resistências. E logo tive que voltar para casa.

Tomei um analgésico, como humana que sou – teimosa – automedico-me (vale salientar, que só um simples analgésico) e tentei relaxar um pouco. Tomei um banho e caí na cama; ainda tive um tempinho de repassar os acontecimentos do dia, em minha mente dolorida e aos poucos fui adormecendo até chegar ao sono profundo.

Hoje, acordei cedo, porém devido ao cansaço acumulado de uma semana bastante corrida, mesclada de alguns eventos que me tocaram emocionalmente, tive vontade de não me levantar; pensei em ficar ali deitada, agarradinha ao meu companheiro de todas as noites – meu macio lençol, que tem meu cheirinho predileto e me conforta nas minhas noites insones, vez por outra.

De repente, soou a voz da responsabilidade, final de mês, o trabalho esperando para ser concluído, relatórios, fechamento do mês de novembro e preparação para receber um novo mês, finalizando a etapa de mais um ano de trabalho. Diante deste despertar fiquei rapidamente de pé. Tomei um banho, café e já me senti melhor. Fui trabalhar. Trabalhei até 13 horas (dever cumprido, graças a Deus!) e retornei para o meu refúgio, pensei: “agora vou almoçar e descansar, não vou fazer nada além de me restabelecer para me preparar para uma nova semana que virá”.

Mas chegando a casa soube que minha filha iria para o cursinho, almocei, organizei algumas coisas em casa, me comprometi em apanhá-la às 17 horas, tive que alterar os planos. Mesmo assim, chegara a hora de um merecido descanso, uma boa rede, num quarto bem arejado. Dormi e até sonhei. Acordei (melhor um pouco, talvez!) com a chamada no celular: “mamãe você não vem?”. Respondi que sim, que ela esperasse só um pouco. Levantei, e enquanto me trocava, alguém falou: “vá assim mesmo”, (eu estava com um shortinho e uma pequena blusinha) falei que não (não gosto de sair assim), pois pretendia na volta comprar água e necessariamente desceria no ponto de venda.

Coloquei os vasilhames no porta - malas e sai. Em dez minutos estava na porta do colégio, onde minha filhota me aguardava ansiosa. No retorno, parei no ponto de venda de água. Troquei os vasilhames, agora já abastecidos, fiz um triângulo com os mesmos para se apoiarem entre si (para não correr o risco de virar, quebrar e inundar o carro), sai lentamente em direção a casa. Já havia percorrido dois terços da distância, quando ao passar num quebra-molas, embora lentamente, ouvi uma pancada atrás e imaginei que tivesse balançado os vasilhames e estes estivessem quebrados. Encostei o carro, desci e fui verificar. Ao abrir o porta-malas o triângulo estava desfeito e estes estavam inclinados; na ânsia de saber se estavam inteiros ou não, larguei a chave, passei a mão no carpete, estava seco. Os levantei e os arrumei novamente. Passado o susto e já agradecendo a Deus, por menos um transtorno (caso tivesse quebrado), verifiquei se estavam firmes e bati a porta. Em questão de um milésimo de segundo me dei conta de que havia deixado a chave dentro do porta-malas. Aí senti que tinha chegado também a minha primeira vez de trancar a chave dentro do próprio carro. Fato que quando ocorre com os outros, sempre se acha que é displicência, mas depende das circunstâncias e não estamos isentos desses contratempos. Fui ao painel e liguei o sinal de alerta, observei que estava bem estacionado, apesar de estar numa avenida bastante movimentada, não corria risco de atrapalhar o trânsito. Liguei para meu filho, pedindo o devido socorro, ou seja, a chave reserva. Expliquei onde ela estava guardada, e este, me pediu para aguardar um pouco, que logo ele me socorreria.

Enquanto aguardava, me sentei no carro ao lado da minha filha; ela ainda assustada pelo imprevisto me perguntava se havia risco de alguém bater no carro, ou mesmo, fazer algum assalto, falei que não, pois estávamos num ponto bem movimentado e devidamente sinalizado; pedi que mantivesse a calma, pois tudo passaria logo, logo.

E assim, decorridos 15 minutos o socorro chegou. Abri novamente o porta-malas e lá estava a bendita chave. Pensei: e se eu tivesse saído de casa naqueles trajes que me encontrava como me portaria no meio daquele movimento? No mínimo, constrangida.

Voltei ao volante e agradecida a Deus, por sua eterna proteção, percorri o restante do caminho sem nenhum percalço.

Cellyme
Enviado por Cellyme em 30/11/2008
Reeditado em 18/04/2010
Código do texto: T1310566
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