O PALETÓ

Esta semana, um amigo ligou informando que vou receber uma medalha, troféu, diploma ou condecoração, quem atendeu não soube informar direito, em razão dos vinte e cinco anos que passei a exercer um cargo federal.

Eu preferia aqueles anos em que nem tinha tempo de Casa para alguém se lembrar de mim nesse tipo de homenagem.

Considerando, ainda, que passei doze anos e meio licenciado para fazer campanhas políticas ou exercendo cargos políticos, a homenagem reflete mais a passagem do tempo que o merecimento pelo trabalho em prol da Instituição. Irei, certamente, farei companhia aos que começaram comigo.

Lembrei do paletó do Herculano.

Este, aos trinta e poucos anos, tinha mulher, uma penca de filhos, e uma que outra por fora, que o cara era malandro. Seu salário de auxiliar de nível médio não era suficiente para manter a casa, menos ainda as fugas.

Funcionário público, sempre estava fazendo alguma coisa, por fora. Muito mais presente ao trabalho que o servidor, em sua cadeira se destacava o paletó. Os colegas, penalizados com a necessidade financeira e não raro incomodados, com certa inveja das “fugas”, acobertavam suas saídas e o chefe, quando passava pelo setor, ouvia o motivo da ausência sabendo o que ocorria.

Dez anos após a posse do Herculano, a chefia resolveu distribuir, aos colaboradores de uma década, diplomas e bótons comemorativos encomendados a um escultor que, por sorte, era amigo do chefe. Homenagem oportuna e um evento singelo, para as pessoas da Casa. O bóton, cheio de estilo, nem custou caro. Diante da dificuldade de encontrar, ao vivo, o homenageado, o assessor de comunicação colocou a informação e o convite no bolso interno do paletó do mesmo.

Dias depois, pouco antes do horário do evento, o chefe, desconfiado de uma possível ausência, passou pelo setor fatídico e lá encontrou, no lugar de sempre, o impecável paletó do homem, se bem que notou um pequeno acúmulo de poeira. Levou o paletó, após uma boa sacudida, e o instalou na cadeira reservada ao homenageado.

Nesse dia, legítimo representante do Herculano, o paletó recebeu o bóton e nem ficou tão elegante, como costumava, com o diploma enrolado que colocaram no bolso, onde ainda estavam a informação e o convite da homenagem.