A Morte do Nada

Tava ali tão sério, tava tão consternado,

E os homens gritando a passar-lhe a mão.

Enquanto se curvava, fez-se ouvir um estalo,

O estalar dos dedos... quase um coração.

Parecia anjo, parecia gente,

São Miguel Arcanjo, Judas, São João.

Eram 12 apóstolos, era o Onipresente,

A caveira e os dentes, sombra de um vulcão.

Buscava a boca aberta, os lábios ressecados,

O medo estampado em meio à multidão.

Foi quando ouviu um passo, o cristal quebrado,

Um monte de cacos, cores da visão.

Cego e atordoado, caleidoscópio armado,

Quase equivocado soprou seu nome em vão.

Não era Afrodite, Vênus, Juno ou Baco,

Um Aquiles fraco, calcanhar na mão.

Era quase um espelho, um flamboyant vermelho,

O rubro de ataduras, fogo no Sertão.

Já não era pálido, um carvão queimado,

Grafite triturado, pó que cai no chão.

Era o sopro leste, derradeira peste,

Caxias psicótico, vulto no porão...

Era o vento agreste, ramo de cipreste

Coroando a face, fácil Fá, canhão.

Vinha desarmado, esporas cromadas,

Luz de alma cremada, quase aluvião...

Chegou renascido, do inferno erguido,

Veio à meia-noite, confiscando o pão.

Comeu todos os vícios, sentiu o precipício, pulou de um edifício...

Era a Redenção!

Serginho Maresias
Enviado por Serginho Maresias em 31/03/2006
Código do texto: T131668