MOISÉS, MISSÃO CUMPRIDA

Estamos no monte de Nebo, bem no alto de Fasga. Aqui é a última visita do Senhor a Moisés, Sua derradeira fala, as declarações finais, apoteose. Nunca em todos os tempos passados nenhum profeta viu Deus rosto a rosto em toda a Sua grandeza e fulgor, em Seu brilho candente, em Sua extraordinária energia como O viu Moisés muitas vezes e muitas vezes com Ele falou. Nunca, em nenhum tempo futuro algum profeta O verá assim. Só Cristo. Mas Cristo não era um profeta, senão o Próprio Deus, encarnado no mistério de Sua Segunda Pessoa - filho de mulher terrena concebida sem varão, pelo Espírito de Deus.

Eis a história de Moisés, a história mesmo, impressionante e verdadeira, fabulosa e real, como foi captada em uma visão global de luz interior e se mantém gravada no arquivo cerebral do autor, que aqui deixa o registro à posteridade. Consta que Moisés morreu no alto de Nebo, contemplando, por inteiro, o país de Canaã, que o Senhor prometera à posteridade de Abraão e Isaac e Jacó sob juramento. Cumprira sua missão na terra levando até ali o povo de Deus. Arrancou-o do poder de Faraó e da escravidão, liderou-o e guiou nos caminhos do deserto, proporcionou-lhe o ensejo de falar a Deus e deu-lhe, escritas pela inspiração divina, as leis morais e espirituais que no futuro se estenderiam a todos os povos, inseridas nas constituições do mundo inteiro com iguais palavras ou palavras próximas. Condutor de povos e legislador, foi, nos dois misteres, o maior de todos os tempos passados e nos tempos futuros não haverá quem o iguale. Foi dos profetas de Deus, o que exercitou as maiores maravilhas conhecidas na terra. Como ele, não as exercitará nenhum outro no futuro. Nem o Cristo o excederia no poder milagroso, não o alcançaria, aliás, talvez porque vivesse pouco, talvez porque os tempos fossem outros, talvez porque essa era a vontade de Deus. Aliás, houve quem interrogasse no Seu tempo, se Jesus não seria Moisés reencarnado ou se não seria Moisés aquele João Batista comedor de gafanhotos no Jordão. Sobre estas coisas, há muita dúvida. De muito não se sabe, a ninguém é dado saber em profundidade, neste Vale de Lágrimas, as coisas divinas, eis que a pessoa humana é muito pequena para tão grande coisa! Sabe-se, entretanto, que Moisés vinha de ser, em vidas terrenas anteriores, Adão, depois Noé, depois Abraão, depois José, o do Egito.

Podia agora morrer. Podia agora morrer Moisés, ali morrer. E Deus o chamou à Sua morada de glória. Não lhe foi dado pisar a terra prometida, bastava vê-la e saber que cumprira sua missão, aquela que havia recebido em dias distantes, ainda na mocidade - estava já aos 120 anos -, do próprio Deus na primeira visita à sua simples e ignorada pessoa no monte de Horeb. Cumprira-a bem, a contento do Senhor.

- "Missão cumprida, disse Deus a Moisés na última visita, preciso de ti para novas e mais importantes missões, agora espirituais, mais uma vez espirituais. Josué, teu general, reconquistará palmo a palmo a terra prometida, ora apossada por outros povos. Ela é de Israel e só Israel poderá ocupá-la. Muita guerra ainda haverá no futuro, muito sangue, porque é de sangue que os "deuses da terra" se alimentam".

Nessa última aparição divina, foi posta à frente de Moisés, visível em toda a sua extensão, como só a Deus seria permitido fazer que a visse, arrebatando-o para o alto a contemplar de cima - a terra de Canaã, aquela que pertencia a Israel, oferecida por juramento a Abraão, Isaac e Jacó, desde Galaad até Dan e Neftali e Efraim e Manassés e Judá até à distância do mar, bem como a amplidão meridional de Jericó e Palmeiras e Segor.

- "Tu a viste com os teus olhos e não passarás a ela, falou o Senhor a Moisés nessa Sua última entrevista à frente de Canaã. Missão cumprida. Preciso de ti para novas e mais importantes missões espirituais".

Nunca em todos os tempos passados nenhum profeta viu Deus rosto a rosto em toda a Sua grandeza e fulgor, em Seu brilho ofuscante, em Sua extraordinária energia, como O viu Moisés seguidas vezes. Nunca, em nenhum tempo futuro algum profeta O verá assim. Da mesma forma, nunca nenhum homem soube nem saberá onde foi posta a sepultura de Moisés, embora se registre ter sido lacrada pelo povo fugido do Egito nas terras de Moab, defronte de Fogor. Deus o arrebataria em alma e matéria, vivo e lúcido para assim levá-lo ao Planeta dos Deuses, da mesma forma como o faria, ao depois, com Maria, mãe de Jesus? Sabe-se ao certo e aqui se proclama para que fique aos vindouros, que nessa conversa final, Deus lhe abriu os olhos e a mente em uma soberba revelação, fazendo relembradas as suas vidas pretéritas e todas as coisas passadas de que anteriormente por diversas maneiras o pusera ciente para que ensinasse ao povo, como de fato ensinou. Reavivou-lhe também quanto já havia revelado antes para ensinamento a sua gente, sobre os atos divinos e a pessoa humana desde a criação, desde a origem do mundo, desde a Sua própria origem. De igual modo lhe recordou o seu nascimento na vida atual e todos os seus dias a partir do momento em que foi retirado das águas do Nilo pela irmã do Faraó, recebendo, aí, o nome - Moisés.

Moisés contemplava a distância do ontem. Do alto, de sobre as nuvens aonde fora arrebatado pelo Senhor, contemplava. Muito longe, no pretérito, via aquelas mesmas terras de Canaã feitas em um paraíso terrestre. Havia leite e mel nos rios, as árvores frutíferas e os legumes eram como se fossem mata ainda não tocada. Via o próprio Senhor a trabalhar um boneco, sobre o qual soprou, para dar vida. Uma mulher a seguir. Seriam... Adão e Eva. Sim. Adão e Eva. Não! Não! Sentia-se ele mesmo soprado sobre a estátua de barro. Ele no corpo de Adão. Um longo sonho de vida, um planeta que nasce e recebe a semente da multiplicação. E principia o processo de multiplicação. Adiante via-se em Noé no comando da Arca do Dilúvio. Via... Que figura impressionante de homem ainda moço e forte, com uma estatura próxima dos dois metros pastoreava muitos rebanhos ao mesmo tempo, centenas de animais? Via-o nas terras de Canaã, desde as planícies de Siquém até o Vale dos Ilustres... Passou mais tarde para as mesmas plagas do Egito onde por ventura nascera ele, Moisés, e onde vira Israel sofrer o peso da escravidão. Em seguida retornou a Canaã com maiores rebanhos, e então ocupava com os seus milhares de animais todos os campos do Setentrião ao Meio Dia. Quem era aquela figura? Uma mulher, moça e bonita, deslumbrante... Sara, Abraão... Sim, Abraão e Sara, os pais de Israel em um passado de muitas gerações, o mesmo sangue que daria, séculos depois o Cristo de Nazaré. Abraão, que recebera a promessa do Senhor e Sara, sua mulher, mãe de Isaac pela força de Deus, concebida aos noventa anos de idade. Aliás... Era a ele próprio que via na pessoa de Abraão. Vinham aos seus olhos, de passagem, Isaac e Jacó, frágeis de físico ambos, mas de fronte erguida para o destino marcado por Deus, que a eles renovava o juramento pactuado com Abraão. Por fim, se via em José recebendo os irmãos e o pai no Egito, governando as terras do Faraó, arrecadando e armazenando víveres, matando a fome dos povos que vinham de toda parte do mundo oriental conhecido a abastecer-se nos celeiros do seu governo, por causa das secas que se abatiam sobre aqueles povos. Jamais imaginara que tivesse sido tanto em tantas vidas, cada uma delas maior que a anterior.

Para o alto, tomando toda a extensão do universo, Deus se mostrava inteiro, feito de luz e ar e energia. À frente de Moisés, aquelas vidas passando uma a uma desde a criação. Era uma passagem rápida, suficiente ao seu entendimento. Muito daquilo já lhe fora mostrado em visões anteriores e ensinara ao seu povo na ociosidade do deserto, longos dias de quarenta anos de acampamento em acampamento. Visão extraordinária. Sonho ou realidade? Vida passada ou presente?