Fato do interior (do Paraná)
Já passava das vinte e duas horas e os carros seguiam no mesmo rítmo pela Avenida Principal. Isso não seria estranho senão estive comentando sobre um ato fúnebre. O fato é que aquele jovem era muito conhecido, tinha amizade com muita gente. Seus pais, pessoas distintas e honradas na pequena cidade do interior do Paraná.
Havia muitas horas desde o sabido da morte do jovem, e de lá para cá todos iam e vinham. Comentavam, como se cada um soubesse melhor que o outro como havia acontecido o incidente. Cada qual queria que sua versão fôsse a mais aceita e, inédita... Isso ocorrera por volta das três horas da manhã e num piscar de olhos, a cidadezinha toda estava acordada e prestativa para o que fõsse necessário para a cerimônia de velório. Precisava-se ver flores, arranjar velas, tapetes limpos, banheiros lavados, café, sanduíches, cigarros. Ah, e também um cd com músicas muito suave, dessas que fazem qualquer pessoa entristecer mais ainda. Tudo pronto. Nada do morto. O corpo estava no IML da cidade maior mais p´roxima, não havia sido liberado. Havia circunstâncias tais que permeavam uma eleoqüência de fatos. Quase uma festa, e das boas. Com muita gente, boa comida, bebidas e ... musiquinha de velório.
Lá pelas seis da manhã, um boi gordo foi abatido e na padaria cerca de mil pães foram encomendados. Na cozinha, uma enorme equipe preparara o desjejum, com bolos, queijos, leite fresco da fazenda, e café forte.
Passou-se o dia assim, em festa, em silêncio taciturno. Às três da tarde, Feliciano chega da cidade, esfomeado: - Logo chega o corpo. Me vê um prato que ainda não almoçei. - disse ele para Benta que servia carne em uma bandeja enorme. Cinco horas da tarde e nada do defunto aparecer. Já estava anoitecendo qunado de longe se via luzes clareando a estrada. Lá vinham eles. Trazendo o defunto, morto que tava já havia dezessete horas. O povo estava ansioso demais. Uns corriam como que para arrumar uma última coisinha que ficara desajeitada.
Mal o defunto foi posto na sala de entrada da casa, uma multidão se aproximou. Todos estavam curiosos para ver aquele corpo inerte, sem vida.
Os comentários eram diversos, mas o que mais chamava a atenção era que todos queriam saber como o fato relamente se dera e a família, mais assustada com a recepção do que com a morte do fulano, retirou-se para uma sala íntima, nos fundos da enorme casa. Eis que um homem, já passado de bêbado, esgueirando-se pela janela, com uma voz cheia de cuspe, olhou direto para o dono da casa e disse: - Mas que coisa, hein Seu Juvêncio, por essa ninguém esperava mesmo. Seu Juvêncio, consternado, baixou a cabeça e agradeceu a "bondade" do homem, ao que este respondeu-lhe: - Mas uma coisa, digo pro senhor, quando quiser fazer outra FESTANÇA que nem esta, me avise uns dois ou três dias antes prá eu avisar meu povo do Ribeirão...