Fuga

Expulso do aconchego dos lençóis pelas contrações da madrugada, seu despertar era quase um parto. Incomodava-lhe a luz, até o ar da manhã ardia em seus pulmões.Talvez por isto não guardássemos lembranças do nascimento deve ser muito dolorido pensava... procurava manter a realidade longe, naquele espaço entre a vigília e uma réstia de sonhos que sobravam em seus olhos...deixava-se levar por intermináveis devaneios... por muito tempo sua mente dividia-se entre o que via e o repouso e a paz que tirava dos sonhos e do sono. Enterrou o que sentia no âmago da alma e escondeu-o como uma pessoa incapaz de confessá-lo, ainda que a si mesma...na realidade seus sonhos não terminavam com seu regresso, a cama, os lençóis, a profusão da luz do dia não cortava o cordão que o ligava aos devaneios, os perseguia com um apetite insaciável por seus prazeres queridos, da musica da poesia das mulheres... como uma febre dos sentidos escancarava suas emoções neste inicio de vigília .Relutante abriu uma fresta em seus olhos e observou seu quarto, nele... sua vida... nada viu ao redor e além o que apetecesse sua ânsia de vida .Enroscou-se em si mesmo, aconchegou-se aos lençóis reatou o cordão umbilical de sonhos, e navegou para fora de si...onde ninguém poderia encontrá-lo sequer ele mesmo.

Carlos Said

S. P. 12/2008

Carlos Said
Enviado por Carlos Said em 10/12/2008
Reeditado em 13/02/2013
Código do texto: T1329089
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