Uma crônica aborrecida

E de repente o menino cresceu. E ninguém viu, ninguém percebeu o percurso vertiginoso que fez daquele menino de agora pouco uma coisa crescida. E ninguém notou que agora ele é um homem, moço velho como dizem alguns; está bem ali, estirado no sofá, com pernas, braços e dedos enormes, onde agora pouco brincava um menino. Jaspion, astronauta, desenhista, que vou ser? Mas o menino cresceu com tanta pressa que não foi possível vislumbrá-lo na crônica, e o que acabou nos sobrando foi isto: um sujeito entediado, um pobre diabo a mercê dos pequenos e grandes aborrecimentos que atribulam a vida do homem urbano.

Incapaz de esboçar qualquer gesto de reação deixa-se ficar ali - sentando no sofá, assistindo amenidades na televisão, fumando seu cigarro. Até pouco tempo ele era capaz de vencer qualquer tédio com ligeiros traços no papel: arriscava um traço aqui, puxava outro ali - e pronto! - estava feito seu desenho e vencido seu inimigo. Às vezes desenhava uma flor, uma vaca, alguns pássaros em v aberto – às vezes uma nuvem, uma casa e um sol nas bordas da folha abrindo um enorme sorriso. Pouco importa o desenho, importante é que o sol esteja abrindo um sorriso, pois um sol que se preze é aquele que está sempre esbanjando alegria. Curiosa lei das crianças, de por sorriso em tudo o que fazem...

Em verdade as crianças são verdadeiros gênios na arte de driblar o tédio, nós adultos é que somos burros pra cacete. Principalmente o escritor, que fica aqui escrivinhando essa crônica que só serve pra encher o saco de quem lê!

- Leitores, uma salva de vaias, por favor!

Alex Canuto de Melo
Enviado por Alex Canuto de Melo em 11/12/2008
Reeditado em 14/01/2009
Código do texto: T1330235