É tudo igual

“Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.” Mário Quintana

Treinados a aprender por imitação e semelhança, acabamos incorporando essa maneira de agir e tendemos a julgar tudo da mesma forma. Quantas vezes dizemos: “É a mesma coisa”, como se cada ação, pessoa, coisa, acontecimento, oportunidade, desgraça fosse clone absoluto de cada célula ou átomo, em forma e definição.

O mundo não é uma fotocopiadora gigante, mas um fervilhante laboratório onde o plasma da vida ferve, congela, agrega, expulsa, retoma e cria infinita, total e constantemente. Seus elementos mudam sem parar, de uma ou outra forma. A impressão digital do mundo não se repete.

Uma palavra pode ter vários significados, dependendo da forma como é dita: da entonação ao olhar. Experimente, por exemplo, dizer “Vai ver” de diferentes maneiras. Com raiva, decepção, ameaça, tristeza, alegria, incentivo. Invente mais algumas formas. A mesma expressão, usando exatamente as mesmas palavras, transmitiu várias mensagens diferentes. Antagônicas, até. Com elas você poderia fazer um amigo, um inimigo, começar uma festa ou uma guerra.

Cremo-nos onipotentes e definitivos em nossos julgamentos e, por isso, tendemos a emitir verdades absolutas, fazendo comparações daquilo que, de alguma forma, já vivemos e o que vemos acontecer agora. O mesmo acontece com nossas idéias, o que dá origem ao preconceito.

Em minha adolescência, li um poema com alguns versos que teimam em não sair da memória: “Não dá bola aos velhos quando dizem/ que no tempo deles não era assim./ Eles nunca viveram no teu tempo./ Eles nunca tiveram a tua idade.” A experiência é fundamental, sem dúvida, mas achar que tudo é igual e se repete da mesma maneira é negar a evidente evolução. Não admitir mudanças e divergências é negar o brilho da vida. Não enxergar a beleza das nuanças dos sinônimos nas pessoas, nas palavras, no mundo é um dos maiores pecados: o pecado da cegueira voluntária.