Historieta da 1ª República Portuguesa ( à minha maneira) - Parte VI

Cabia ao Governo Provisório legitimar a República através das primeiras eleições democráticas.
Tinha sido ponto de honra do programa republicano o sufrágio universal e os círculos uninominais.
António José de Almeida viu-se a braços com um conflito dramático. Por um lado tinha as velhas e sagradas promessas proclamadas em comícios e atiradas à face da Monarquia e por outro o perigo do peso eleitoral das massas rurais influenciadas pelos caciques e pelos padres.
As nações estrangeiras esperavam pelos resultados do primeiro acto eleitoral português para reconhecer a República Portuguesa.
A lei de Março de 1911 só atribuía direito de voto aos adultos alfabetizados e aos chefes de família. Ficava de fora o povo analfabeto que havia lutado e morrido na rotunda no 5 de Outubro, e o clero.
António José sacrificava também os círculos uninominais.
No tempo da Monarquia, o decreto de Hintz Ribeiro era conhecido por “Ignóbil Porcaria”. O país era dividido em vastos círculos plurinominais.
A república mantinha assim a “ Porcaria”, que tanto havia criticado, por esta a proteger da província hostil. Era preciso ganhar as eleições a todo o custo e fazer boa figura no estrangeiro. Internamente o nome de António José ficou na lama. “ Traidor” foi o termo mais terno que usaram para o insultar na imprensa.
Na assembleia passou a “ reinar” o PRP sem qualquer oposição dos conservadores monárquicos nem dos militantes do PS que eram maioritariamente analfabetos.
As primeiras tarefas da 1ª assembleia Nacional Constituinte, cuja abertura se deu em 19 de Junho de 1911 seriam elaborar o texto da Constituição da Republica e proceder à eleição do chefe de Estado.
Com o partido dividido em três, tecem-se alianças estratégicas para travar a eleição de um presidente apoiante dos radicais.
Assim, sai Manuel de Arriaga primeiro presidente eleito contra Bernardino Machado no dia 24 de Agosto de 1911.
Deste divórcio entre presidente e maioria radical do PRP nasceu uma luta que haveria de provocar grande instabilidade política.
A instabilidade social também não ajudou à solidificação do regime. Em toda a Europa as classes trabalhadoras reivindicavam os seus direitos. Não era uma época muito propícia ao nascimento de uma democracia.
Até os nossos políticos de hoje reconhecem que é muito difícil proceder a reformas num regime democrático. Chegam a suspirar em publico por ditaduras de 6 meses...
Em Janeiro de 1913 inicia-se o 2º governo de Afonso Costa. Foi o mais longo na curta história da 1ª República, tendo terminado em Fevereiro do ano seguinte. Mais de um ano! Para aquela época foi uma excelente recorde.
Afonso Costa guardou para si a pasta das finanças e tratou de colocar as contas na ordem.
Nesta altura do campeonato já o PRP não existia. Dele tinham nascido três novos partidos:
Partido Unionista de Brito Camacho; Partido Evolucionista de António José de Almeida e Partido Democrático de Afonso Costa, na altura no governo.
Apesar de ter maioria parlamentar Afonso precisou do minoritário Brito Camacho para governar. Este mostrou-se solidário. Por um lado Afonso aumentava as receitas do Estado e cortava nas despesas conseguindo equilibrar as finanças. Por outro a vida parlamentar era caótica. Era a barafunda total, entre gritos e discussões. Até um parlamentar esquizofrénico por lá andava, sacando da pistola que apontava à cabeça de quem calhava quando algo lhe desagradava.
Sempre que havia uma celebração pública organizada pelo governo uma multidão saía às ruas em gesto de apoio. E logo explodiam as bombas com mortos e feridos. Dizia-se que era mais perigoso passear no Rossio às duas da tarde que em Algés à meia-noite.
Afonso Costa salvou-se de um atentado por um triz na praia das maçãs.
No dia em que Afonso Costa anunciou o “ superavit” nas contas, o primeiro depois de mais de meio século de desordem financeira, foi motivo de galhofa dos seus adversários. Sim, riram-se à gargalhada, como se fosse alguma anedota.
Os cães ladravam mas a caravana ia passando. Não sem ter de enfrentar as incursões Monárquicas de Paiva Couceiro a partir da Galiza. Ninguém acreditava sinceramente na restauração da Monarquia, muito menos ele. Mas era preciso destabilizar e desacreditar o novo regime. Paiva Couceiro era o instrumento perfeito. O último dos monárquicos foi sempre derrotado, não sem causar mais mortos e feridos.
As eleições no final de 1913 deram a vitória ao Partido Democrático.
Afonso Costa continuaria a poder levar a bom porto a República?


AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 13/12/2008
Reeditado em 10/01/2009
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