Reflexões de Natal

Eis que novamente chegou o Natal! As ruas e os shoppings estão cheios de pessoas apressadas para comprar o presente de amigos e parentes. As casas e lojas decoradas com luzes coloridas e arranjos natalinos: pinheiros artificiais povoados de bonequinhos de neve, renas e Papais Noéis, entrecortados por luzinhas coloridas que piscam.

Na TV e nas rádios, os anúncios propagam os melhores presentes e as promoções de final de ano; nas repartições públicas e empresas privadas, ocorrem confraternizações, onde bajulação, constrangimentos e mentiras compõem verdadeiras odes à hipocrisia.

As famílias preparam suas ceias de Natal: o peru e o queijo do reino não podem faltar. Bebidas também não: champanhe (ou espumante, para os mais humildes), uísque, cerveja e refrigerantes para a meninada.

Enquanto isso, conforme publica o Jornal do Commércio de Pernambuco de 16/12/07, crianças escrevem cartas para o Papai Noel (que na verdade são emitidas aos Correios) pedindo comida! Segundo o jornal, uma das crianças mora em um quarto sujo e calorento, com a mãe e a irmã; ela pediu uma cesta básica e um par de sandálias.

Outra carta é de uma mãe pedindo um nebulizador para o filho, pois ele sofre de asma e ela não tem condições de comprar o aparelho. São citados outros casos de pobreza extrema e sofrimento.

Será que as pessoas estão de fato interessadas no que pregou Cristo, supostamente o homenageado desta data? A própria mensagem cristã perdeu-se no amálgama de consumismo e demagogia que tomou conta das pessoas durante todo ano, entretanto com mais intensidade nesse período.

A figura do Papai Noel é execrável. Ele é um símbolo de tudo que não combina com o espírito natalino: Solidariedade, irmandade entres as pessoas, "paz na terra aos homens de boa vontade".

Ou dito de outra forma, o Papai Noel pode representar não só o Natal de norte-americanos, como também seu modo de vida. Com seus agasalhos vermelhos, renas e bonecos de neve, ele parece mais um embaixador dos EUA, levando a mensagem da moderna sociedade de consumo americana, onde para ser feliz é necessário ser vencedor, ter sucesso e dinheiro.

Mas aqui no Brasil, e mais no Nordeste, onde o calor é intenso nesse período do ano, são ridículas as figuras de bonecos de neves, pinheiros e bons velhinhos com casacos vermelhos.

Ademais, tendo como referência a ótica do Natal a partir do consumo, o que dizer da parcela da população que não tem acesso a esses bens, que sonha com moradia e comida como presentes? O Natal não existe para essas pessoas?

Esse discurso de final de ano causa enfado. De repente todo mundo se torna bom, as pessoas passam a perdoar, a fazer caridade, doando cestas básicas e presentes a orfanatos e abrigos de crianças e idosos. Quer dizer que essa população só merece atenção nessa época do ano?

Oxalá possamos transformar este país em um lugar onde o espírito natalino seja uma constante durante todo ano, a guiar as ações de governantes e cidadãos em geral, fazendo com que a solidariedade e o bem comum sejam parte de nossa vida; onde a fome, a miséria e a injustiça sejam banidas definitivamente.

E não o que vemos agora: Individualismo, consumismo, demagogia e hipocrisia

Marcio de Souza
Enviado por Marcio de Souza em 15/12/2008
Código do texto: T1336552
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