Uma noite qualquer.

Mas que sentimento é esse que surge no meu peito nessas tardes tão escuras e úmidas? Parece que sinto meu estomago torcer-se cada vez que ouço a palavra felicidade. Tenho aquela sensação de queda cada vez que penso nesse esquecimento que essa movimentação toda causa. Nos esquecemos em meio aos dias que parecem não querer esperar.

Eu saí ontem pela cidade tentando esquecer todos esses papéis, e contas, e amores, e juros, e juras, e tudo. Andei pela rua sem saber direito se eram as luzes que estavam fracas ou se meus olhos que aos poucos se fechavam puxados pelo álcool que me conserva esses últimos resquisios de alegrias e sorrisos.

No meio da rua em que andava eu, tão distraído do mundo e obstante de qualquer coisa que pudesse ser real o suficiente para aquela cabeça bêbada identificar, tropecei. Cai ao pé de uma bela rapariga. A prostituta nem me deu bola. Nem me ajudou a levantar, olhou pra mim e disse algo pra sua companheira de esquina. Essas esquinas do centro da cidade, me causam asco nos dias comuns, mas hoje, bêbado triste e só... deliciei-me em seu chão. No qual cai e sorri. E ri e ri até que quase urinei em mim mesmo. Levantei e fui a um beco qualquer, abri o zíper, e mixei na parede pixada. Que se consigo identificar bem trazia a mensagem "VIVA LA REVOLUCION". Não quis lembrar dos tempos que também acreditava nessa tal revolução. Fui até um bar e pedi mais uma cerveja, e uma dose de vodka pra adoçar a boca.

Logo paguei e continuei em minha perigrinação.

A cidade é realmente bela a noite. Sempre gostei de andar por ai quando o sol se põe. Não sei como consegui me esquecer disso. Mas não quero me lembrar desse esquecimento que me alimentou durante tanto tempo.

Que bom que não tenho comigo nada de valor, afinal já não é hora de pessoas decentes estarem na rua, vagando pelos becos mal iluminados. Essa hora é a hora dos ratos que saem pelas madrugadas caçando qualquer coisa que alivie a sensação de viver. Qualquer droga, qualquer pessoa, qualquer sexo. Eu opto pela droga de mim mesmo, acompanhado pela sombra do que um dia foi minha alma.

Esqueci que bebidas também são drogas.

Assim vagando pelas ruas, átras de um novo bar, percebi que falei pouquissimas palavras e nessas poucas horas fumei muitos cigarros.

Também esqueci que cigarros também são drogas.

Quando me vi cansado e inconsciente demais pra continuar a andar, ou pra voltar pra casa deitei em qualquer guarita que me protegesse do orvalho da manhã que não tardaria em chegar.

Acho que a essa hora o metro já estava fechado e eu devia estar longe demais pra voltar.

Acordei com um homem de terno preto e camisa branca, ambos com cara de barato, me empurrando com o pé para livrar a passagem. Uma mulher com um cachorrinho devia estar querendo fazer algo importante demais pra respeitar um ser humano em seu tão profundo sono. Sai cambaleando, meio tonto e cego de sono.

Fui acordar numa padaria com mais um cerveja.

Voltei pra casa, e continuei a dormir. Já que na rua, um cachorro vale mais que eu, pelo menos trancado aqui eu valha alguma coisa e possa dormir.

Ontem de noite eu sai e hoje eu voltei assim... Me sentindo pior que antes. Afinal ontem eu acreditava valer mais que um maldito cão. Hoje eu só quero dormir pra aguentar mais um porre que mais uma noite como essas trará.