Gestores... A escolha é sua!

Tenho lidado com interesses contraditórios durante minhas experiências dentro da labuta educacional, ficando muitas vezes a fazer o papel de mago e não de professor. Hoje mesmo estava lendo “reivindicações” de alunos do curso de formação de professores, site “Conexão Professor” vinculado a Secretaria Estadual de Educação - RJ, onde a expressão “aulas dinâmicas” aparece repetidas vezes. Bom... O que é necessário para termos “aulas dinâmicas”? No meu caso um laboratório ajudaria muito, mas a administração do tempo é complicada! Sabemos que nas universidades a presença do Laboratorista é fundamental nas aulas práticas, ele monta e desmonta experimentos, cuida dos materiais, faz manutenção de equipamentos, tornando possível o acesso de vários professores ao laboratório, sem danificá-lo, aumentando sua vida útil, administrando materiais e equipamentos. Existe tal figura nas Escolas Estaduais do Estado do Rio de Janeiro? Eu nunca conheci nenhum.

Seria ótimo se fosse investido verbas em laboratórios virtuais, fazendo do “Laboratório de Informática” um excelente campo de trabalho. Detalhe: lá já existe a figura do OT (Orientador Tecnológico), trabalhando com funções análogas ao profissional acima citado. Acontece, amigos, que informática exige manutenção também! Hoje em minha escola já não posso contar com um laboratório de informática de excelência. As máquinas já estão apresentando os sinais de desgaste e falta de manutenção, todos sabem que com dois anos de uso o P.C. já coisa velha, alguns tempo a mais já não encontramos peças compatíveis, comprar coisa usada não é permitido: Onde está a nota fiscal? Aquelas coisas da burocracia, feitas para os desonestos ficarem mais pensativos e usarem métodos aprimorados de lesarem o Estado, nada a ver com gente que só quer trabalhar! Agora pasme: as máquinas que não foram aceitas pelos professores, os famosos Laptops, estão dentro de suas caixas ficando “velhos” sem serem usados! A desculpa é algo burocrata demais para colocar aqui: Isso é um absurdo! Poderíamos já estar contando com quatro máquinas a mais dentro do laboratório, mas...

Eu nunca teria estômago para ser um gestor da “coisa pública”, além do mais, essa expressão chega a causar náuseas: “coisa pública” – Não sabemos se é um vaso sanitário de botequim ou um simples catarro na calçada! É nojento, não é?

De outro lado existe uma pressão pelos conteúdos: “Reorientação Curricular” – UFRJ/PUC-RJ. Gente importante, com Doutorado, Pós-Doutorado, isso de “pós” impressiona a qualquer um, não é? Até hoje esses diletos colegas do Ensino Superior não deram uma, mínima que seja, pista de como fazer o que eles propuseram em seus custosos e volumosos tratados. Você acha que eles trabalharam gratuitamente, acredita mesmo que aquela quantidade toda de material impresso foi doação de algum empresário caridoso? Duro mesmo é realizar o exposto nos tais tratados em apenas 8000 minutos anuais! Está achando que é muito... Né? São 100 min por semana e dentro de turmas com mais de 40 alunos: Onde encontro o livro dos “Comos”? Eu, honestamente, quando consigo chegar a 60% do proposto já me considero vitorioso! Isso se expondo a adquirir uma L.E.R., Síndrome de BurnOut, desenvolver psicopatias diversas... Uma verdadeira festa!

Mas tudo isso não é nada perante uma Gestão Escolar que mostra metas de aprovação como a maior prioridade da escola. Nesse momento a coisa fica bem mais estranha... Muito estranha mesmo! São organizados vários eventos dentro da escola, exaurindo ainda mais aquele tempo escasso que o Mago da Educação possui, sendo criadas feiras “disso” e “daquilo”, regras importantíssimas vinculadas a poderosos gestores, alguns até além mar, pessoas “Vip”, Banco Mundial... Sacou o esquema? Em suma, a pressão para aprovar alunos que não sabem ler e interpretar textos, desconhecedores da matemática básica, verdadeiros “anti-cidadãos”, é muito forte! Chega a dar um pavor profundo! Quem vai tomar conta do meu mundinho, minha cidade, meu... Quem? “Me explica, me ensina... Quem estava no volante do planeta que o meu continente capotou? Pra onde vai o meu amor, quando o amor acabar?” É verdade... O Chico Buarque já perguntava isso há tempos atrás!

Então... Tenho feito o meu melhor: tentando trabalhar com “cuspe e giz”, assistindo a muitos documentários, podendo assim ilustrar o máximo minhas aulas (caberia aqui falar sobre a necessidade de um melhor uso da sala de vídeo – tão disputada – compra de material como o exibido nos canais pagos – History Channel; Discovery Channel – aparelhos móveis de DVD e vídeo, com som de qualidade, podendo levá-lo para a sala de aula... Somente uns dois já resolveriam!!!)...

Voltando a “vaca fria”: trabalhando com exercícios de concursos e vestibulares, dividindo a nota do bimestre em três etapas – 02 pontos são atribuídos a duas pesquisas que visam complementar o conteúdo ministrado, feitas no caderno e com ênfase em gráficos, tabelas e esquemas (croquis), afinal interface gráfica é fundamental nos dias de hoje; 03 pontos são atribuídos a um teste de bimestre, onde são cobrados somente exercícios feitos em sala de aula (individual ou em grupo, a critério dos alunos), é aqui que o Mago da Educação identifica quem quer estudar, encontra os estudantes e os separa dos alunos. Aluno é fácil ser, basta se matricular em uma escola, mas estudante é algo que exige vontade, esforço, disciplina, atitude, perseverança... Esta ainda é a palavra chave; 05 pontos são atribuídos a uma prova com dez questões tiradas de concursos e/ou vestibulares, com tempo limitado e toda a pressão que a ocasião exige; agora o “jabá” da história – além disso tudo, é oferecido ao aluno, até mais 02 pontos na média, obtidos através de exercícios feitos no quadro, como também com experimentos e/ou apresentações por eles montadas, ou seja, meus bimestres valem 12 pontos! É só trabalhar que a aprovação acontece, se o aluno se transforma em ESTUDANTE ainda pode aprender muito e quem sabe entrar para uma Universidade, se tornar um Juiz, Médico... Isso é desejar o mal de meus alunos? A escolha é da própria sociedade!

Agora pergunto: Alguém ainda quer que eu leve meus diários abertos para conselho de final de ano? Vocês acreditam que alguns alunos se reprovam no terceiro bimestre? Devo-me sentir culpado em relação a alguma coisa? Vou ter que aturar esses trágicos finais de ano até quando? Santos são os Gestores?

Quem puder ajudar-me a melhorar eu agradeço. Por favor, não vamos voltar à época em que o aluno tirava zeros nos três bimestres iniciais e cinco no último... Pronto! Aprovado. É verdade... Até assim já foi! E o salário ó!

Luiz Canelhas

luiz.canelhas@ymail.com