"Alguns Casos Sobre "Pracas" e Outros Erros" = Sobre "êros de portugês"=

Contei um caso sobre meu pai à minha querida amiga Leila Lage e ela achou que eu devia publicá-lo. É um caso sobre o uso de nosso idioma e, por coincidência, ao voltar da agência dos Correios, na qual estive agorinha mesmo, tive que rir sozinho na rua ao ler a placa na porta de um restaurante: o prato do dia era “Frango em sopado”!! Quase que entrei e pedi a receita do “sopado”, coisa que desconheço...Sempre ouvi falar, e já comi muito, frango ensopado.

Como uma coisa puxa outra, fui me lembrando de outros casos de “pracas” e de meu pai, nem todos com os dois relacionados entre si, os erros nas placas e meu pai.

Há muitos anos atrás vi uma "praca" na porta de um boteco anunciando “Feijoada C/Pleta”. Quase parei para perguntar quanto custaria a feijoada sem pleta.

No interiorzão de Minas, em uma cidade histórica, li um cartaz em uma bodeguinha anunciando que vendiam “Fósqui e esqero”. Só por sacanagem perguntei o que era fósqui e o conterrâneo banguela me perguntou espantado:

- Vai dizê que o sinhô num sabe o que caxifósqui?

- Não senhor. Nunca ouvi falar.

- Caxinha cheim de palitin, sô. Di cendê cigar. O sinhô é estrangero?

- Sou de São Paulo. -nasci em BH, mas morava em São Paulo.

- Bem qui percibi...

- Como é que o senhor percebeu?

- Pelo sutaco...Cês fala de modu mui diferente di nóis.

Uma família amiga minha foi passear na Bahia e parou em um restaurante de beira de estrada. Acharam os preços bons e pediram vários pratos, escolhendo-os em um cardápio escrito a lápis. Fizeram as contas e viram quanto iriam gastar.

A conta veio bem mais alta do que imaginavam e reclamaram a diferença. O garçom olhou a conta, olhou o cardápio, olhou a conta de novo, olhou o cardápio e deu razão a eles. Foi corrigir a diferença e voltou sorridente: havia mudados os preços do cardápio para que batessem com a conta.

- Os senhores adesculpe os erros do cardápo...

Baiano esperto, meu rei...

O caso sobre meu pai, o que contei à Leila, aconteceu durante uma promoção que fizemos na Cosipa, em uma sala imensa, com umas quinze pessoas ao todo. Ao saber que meu pai era professor de português, um novo amigo nosso, jovem ainda, pediu a ela que corrigisse “algum erro” na carta que escrevera, rigorosa e cheia de exigências, ao patrão.

Quando meu pai já estava terminando a leitura da missiva, o autor da mesma quis ser engraçado e disse:

- Se tiver algum erro, professor, o senhor não repare. Eu só tenho o primeiro ano primário.

Meu pai olhou sério para ele e enunciou:

- Você me desculpe, meu amigo, mas você não tem esse preparo todo não...

Depois das gargalhadas o apelido de Analfa ficou grudado a ele. Ou, pra disfarçar, passamos a chamá-lo de Beto.

Mas o caso que mais me fez rir até hoje aconteceu em uma cidade a meio caminho entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro, creio que Conselheiro Lafayette.

Chegamos a uma bodeguinha e fizemos um lanche rápido, eu e meu amigo argentino, que era louro, alto e tinha olhos azuis. Em resumo, cara de americano, mas nascido em Buenos Aires.

Enquanto comíamos, o mineirinho magricela, miúdo, com olhar de esperto, prestava atenção à nossa conversa e parecia admirado com o sotaque de meu amigo, que falava o legítimo "portunhol".

Quando pedimos a conta o comerciante quis demonstrar que era poliglota e nos respondeu com certa empáfia:

- Naife crúzeros.

Eu e o argentino rimos tanto que acabamos nos engasgando com o café e tendo que bater um nas costas do outro.

Na volta para São Paulo rimos várias vezes lembrando dos "naife crúzeros", ou seja, nove cruzeiros em nosso idioma.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 17/12/2008
Reeditado em 18/12/2008
Código do texto: T1340496
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