Meio assim

Tarde meio assim, ... A chuva dezembriana cai, mas cai lá fora; cai quietinha e em gotas úmidas, miúdas, cai constante, mas economizando a si mesma. De algum lugar, lá embaixo, no setor bancário sul, uma voz canta músicas épicas, como Roda viva, Deus lhe pague e Tropicália. E outras mais que não conheço. Uma voz, meio assim, Beto Guedes - eufemismo total e completo. Os floquinhos de chuva dançam, rodopiam em frente ao Edifício Sede III do Banco do Brasil. Além do prédio a neblina engoliu. E isso é o mais perto que o Brasil chega de um merry xmas.

Poucas vozes conversam baixinho; é horário de almoço, a pausa sagrada do expediente. Posso ouvir com clareza apenas meu próprio teclado digitando, digitando, digitando, tac tac tac tac pá e o ar condicionado, sempre muito frio nos dias frios. Não há belas metáforas para hoje, porque hoje é quarta-feira, na metade da semana, muita burocracia ainda está por vir. A esplanada dos ministérios não tem luzes natalinas, mas os postes estão acesos. Estranho uma hora da tarde, mas nada além, não cruzamos hoje a fronteira da casualidade e da rotina.

Bandeiras do Brasil e do Distrito Federal; os símbolos do nacionalismo pela janela e etc, mesmo debaixo de chuva continuam com seu trabalho implacável: balançam, pra lá-pra cá-pra lá-pra cá. O heróico nacionalismo! Mas o pano das bandeiras é Made in China.

Cessou a voz que ecoava mpbs. Voltou o chefe. Meu Deus,! É hora de bater o ponto. Queria dizer que não ligo, que pouco me importa, que agora eu vou pegar o avião para Tokyo e viajar 50 dias pela Ásia. Escrever um novo romance sobre assuntos exóticos, que seria um best-seller, number one do New York Times. Não... Tokyo é muito longe. E atrasem o ponto, um pouquinho, vou ali comprar um chocolate. Eis meu ato de bravura, eis como se quebra a rotina! Ah, droga... Tenho que ligar pro