DESTRUIÇÂO DO HOMEM E DA NATUREZA

Estamos sentindo na própria pele tudo o que dizem as profecias: fome, peste e guerra assolando de Norte a Sul, de Leste a Oeste, sem que os homens possam sequer deter esses males que nos envolvem e avassalam a alma.

A fome está presente hoje em quase todos continentes, desde o Leste europeu, África e América do Sul, tendo particularmente no Brasil, grande disseminação, onde é pública e notória a carência dos nossos irmãos em todas as regiões do país.

A peste que invade o mundo inteiro progride assustadoramente, ceifando vidas preciosas, indiferente aos combates e recursos disponíveis pela moderna ciência médica.

Câncer, AIDS, dengue, meningite, malária, hepatite e agora o cólera, cujo vibrião se diz sensível até ao álcool, assim invade nossos rios e praias, levando ao desespero todos os que habitam o solo brasileiro.

Só no ano de 1836, o cólera vitimou em nosso Estado 32000 (trinta e duas mil) pessoas. Não obstante os recursos médicos de hoje, o fantasma do vibrião colérico nos apavora e nos deixa atordoados diante de tantas doenças epidêmicas que se avolumam. Isso ocorre exatamente nessa época em que a situação econômica do país é caótica, motivo pelo qual impede, em tempo oportuno, o combate ao mal, cuja demora poderá acarretar um surto de grandes proporções.

Não é possível o combate ao cólera sem a cooperação do povo, mormente em cidades interioranas, onde não dispomos de saneamento adequado para evitar a disseminação de tão grande mal. Outro agravante: nossas fossas são, em grande parte, canalizadas para os rios que margeiam nossas cidades.

O Rio Pajeú, que nasce na serra do Ambó e banha as cidades de Itapetim, São José do Egito, Tuparetama, Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Carnaíba, Flores, Serra Talhada e Floresta, desembocando no São Francisco, é hoje um dos rios que recebe toda a carga de dejetos dessas cidades. Criminosamente essas cidades despejam suas fossas no leito desse rio, tornando-o dessa forma o maior condutor de diversos vermes nocivos à vida das pessoas.

É realmente difícil corrigirmos esses abusos, todavia se as autoridades competentes entenderem que não há outro remédio, poderão com braço forte acabar com isso, desligando todas as fossas dos esgotos públicos. Outra forma de solucionar o problema é através de um moderno sistema de saneamento capaz de despoluir as águas dos esgotos, a fim de não contaminem nossos rios e mares.

A medida de desligar as fossas dos esgotos públicos não deixa de ser odiosa, entretanto, em diversas cidades interioranas de pequeno porte é, sem dúvida, uma das maneiras possíveis de se resolver tão grave problema.

O saneamento é um dos pontos básicos da saúde; não há saúde sem higiene, não há vida sem saúde. Para atingirmos a meta desejada, é preciso que haja compreensão do nosso povo e, junto às autoridades competentes, cooperar em tudo o que se refere ao bem comum.

Não há outro caminho. Ou marchamos para a despoluição dos nossos rios ou mataremos todos eles e, conseqüentemente, morreremos em função do mal que nos próprios motivamos.

Estado de Pernambuco, 25 de março de 1992

Gastão Cerquinha
Enviado por Gastão Cerquinha em 05/04/2006
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