A Criança e o Natal - da Série Vida de Professora

Durante o mês de novembro e por alguns dias de dezembro andei, juntamente com uma equipe de profissionais, fazendo visitas técnicas a instituições beneficentes que prestam assistência a crianças de comunidades muito pobres. São meninos e meninas entre 02 e 07 anos, oriundos de famílias numerosas, na sua maioria vivendo abaixo da linha da pobreza, expulsos pela seca, pela falta de trabalho no campo, nas pequenas cidades do interior e que, sem alternativa, se submetem a uma vida incerta, engrossando os bolsões de miséria das cidades maiores.

São poucas as famílias com trabalho fixo e estas instituições prestam um serviço humanitário sem precedentes, e mesmo aquela que o faz muito precariamente, com toda simplicidade, nos dá uma lição de solidariedade, pois faz com muita dignidade e amor o que é obrigação do poder público, em todas as esferas.

Visitar estes lugares me deixa um gosto amargo na boca e me reconheço mais indignada ainda. Sim, porque vejo e sinto de perto o sacrifício que todos fazem para melhorar um pouco a vida dessas crianças e suas famílias enquanto sabemos do tanto de dinheiro público, nosso, portanto, sendo desperdiçado em projetos mirabolantes.

Mas o contato com as crianças tem o poder de apaziguar meu coração, quando me sorriem , quando me abraçam e pedem “Tia, tira uma foto!”, “Tia cadê o Papai Noel?”

Todos eles terão, pela solidariedade de muitos, uma singela comemoração, mas o meu desejo de que, ao menos comida no prato de suas famílias haja no Natal e em todos os outros dias de suas vidas.

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Mini-conto de Natal

Ronaldo Torres

Viera da roça, fugindo da seca e da precisão. Chegara na véspera do Natal e no dia seguinte crianças brincavam na rua, exibindo seus presentes: bolas de futebol, carros, bonecas, bicicletas. Ele observava todo o movimento de sua janela. Um garoto o viu e se aproximou:

– Oi! Sou Mário. Pegue seu presente e venha brincar conosco!

Ele desviou o olhar para o chão. Envergonhado, procurou a mãe.

– Mãe, quem é papai-noel que deu brinquedo a todos os meninos da rua e a mim não?

A mãe não soube responder. De onde vieram, papai-noel se chamava cesta básica e carro-pipa.

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