"Conversas Incomple..." =Crônica do Cotidiano=

- Rapaz ! Nem te conto...Sabe aquela casa que minha sogra deixou? Adivinha por quanto a vendi ontem? Peguei um dinheirão nela. Sabe quanto?...ôpa, cheguei ao meu andar. Depois te conto por quanto vendi a casona. Tchau.

- Já reparou naquela loura gostosa pra cacete do quarto andar? Meu amigo, na sexta-feira ela ficou sozinha comigo no escritório. Tomei coragem, catei a gostosa pela cintura, juntei num canto e adivinha o que ela me disse? Chi, depois te conto o resto. Esse é meu andar. Até mais ver.

- Meu marido ontem estava divino, minha amiga. Você nem imagina o que ele queria fazer...Safado feito ele só. Imagina que ele queria...Ô, que pena...terceiro andar já . Na hora do lanche a gente conversa mais. Tchau. Bom dia de trabalho pra você, minha querida.

- Cá entre nós, em off absoluto, só pra você eu vou contar: aquela grana toda nós conseguimos levar em absoluto segredo, com muita segurança e garantia, a um país que não oferece risco algum. Ficou tudo em uma conta numerada...Não é aqui que você desce? Vou descer contigo e continuamos a conversa em seu escritório. Afinal de contas, uma parte da grana é sua...

A cara do ascensorista está cada vez mais fechada, sua expressão mais azeda, seu estômago mais dolorido de raiva acumulada, e seus pensamentos mais acelerados:

- Por quanto será que aquele puto vendeu a casa que a sogra deixou? O que será que a loura gostosa falou praquele veado contador de vantagens? O marido daquela vaca do quinto queria o que de diferente com ela? E esse putão que desceu no sexto andar agora, quanto será que esse corno guardou no estrangeiro? E que país estrangeiro é esse? Devia haver uma lei proibindo conversas não terminadas em elevador. Ascensorista também é gente, cacete!!!

Porra, ainda bem que é fim de expediente. Hora de ir pra casa e parar de ouvir pedaços de conversas.

Em casa a esposa estava doida pra ter alguém a quem contar a fofoca máxima do dia:

- Meu querido, você nem imagina o que me contaram hoje sobre a Emília. Sabe a Emília, né? Aquela grandona, com jeito de vaquinha, que é casada com o Sobral, aquele que diziam que tinha umas maneiras meio você sabe...Pois é, me contaram que ela...Espera só um pouco, amor, a gente já continua a conversa. Estão tocando a campainha.

Dando um pulo à velocidade da luz, o ascensorista pegou um facão em cima da pia e apontou-o em direção à barriga da esposa:

- Se você der mais um passo sem acabar de me contar a fofoca, juro que não chega viva até a porta.

Ao ver a cara do marido, ela contou tudo, em detalhes bem detalhados. Teve medo ao ver aqueles olhos arregalados e aquela cara de ódio mortal. Sentiu o perigo e não correu o risco. No que, aliás, fez muito bem. Caso contrário no dia seguinte algum ascensorista poderia ouvir:

- Sabe aquele ascensorista que trabalhava antes aqui? Pois é, cara...matou a mulher com uma facada na barriga. Me disseram que foi porque....ôpa, esse é o meu andar. Tchau. Depois a gente termina o papo.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 20/12/2008
Código do texto: T1345627
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