A Essência do Natal - Boas Festas!




             Gosto de desejar Boas Festas ao findar o ano para todos os amigos. Feliz Ano Novo e Feliz Natal, embora nada tenha contra, evito usar, ainda que inconscientemente fale, assim como mecanicamente ouço a expressão "Meu Deus!" até dos lábios de enérgicos ateus. Mecanicamente e inconscientemente, somos sulcos nos vales da vida por onde as tradições fluem.
             As opiniões divergem, pessoal e culturalmente, entre as mais diversas religiões e cultos; a tradição das festas, do rito de passagem, que o nosso calendário gregoriano tão bem impõe em nossos inconscientes e em nossas vidas, persiste ainda que o comércio se introduza mais do que deveria e a tal "essência natalina" corra o risco de esvaziar-se entre bebedeiras, júbilo, reuniões de família, resmungos dos mal-humorados e etc. e tal...
              Qual é a essência do Natal? Eu nem ousaria sentar e dar ouvido às inúmeras definições; penso que ficaria perdido entre as diversas conclusões oriundas de uma sinergia de fé e cultos muito fecunda em nosso povo brasileiro. Imaginemos um católico (praticante?) espírita-simpatizante de orientalismos ou um evangélico (protestante?) não sabemos bem de qual 'ramificação' ou 'congregação'... Em suma, melhor parar por aqui. Vou citar algumas curiosidades nas linhas abaixo; nada extraordinário para os que mergulham entre cultura e livros, mas é sempre bom relembrarmos essas páginas do passado, pois há toda uma geração descobrindo um novo mundo a cada instante, assim como era para todos aqueles que já trazem alguns anos sobre os ombros.
              Um culto antigo, denominado "Sol Invictus", permeia essa essência natalina. O Imperador Aureliano decretou, aproximadamente em 270 d.C. (ou 274 d.C.), que o culto do "Sol Invencível" passaria a ser o "senhor do império romano". Este culto adquiriu quase um teor (pseudo) monoteísta diante de muitos outros cultos existentes naquele período, devendo os demais se postarem de modo subservientes ao Sol Invencível. Posteriormente, o imperador Constantino, que exigiu ser proclamado o primeiro papa após o polêmico I Concílio de Nilcéia (325 d.C.), onde a divindade de Jesus foi decidida por um estranho sufrágio, fundiu o culto do Sol Invictus, do qual ele era praticante à recente divinização de Jesus, o Cristo. Assim, de certa forma, iniciava-se o Natal. O dia 25 de dezembro, escolhido não por acaso pelo Imperador Constantino, definia que o Nascimento da Divindade se consolidava, neste dia. 
              Simples, não? Não! Não tem nada de simples. Na verdade é mais complexo ou diria, mais estranho, pois os fatos vão se enterrando em camadas de esquecimento, e o passar dos séculos, e o nascer e a morte de inúmeras culturas deixam cada vez mais para trás a tal essência de acontecimentos que atualmente ainda vive em algumas de nossas tradições. A escolha pelo dia 25 de dezembro, de uma perspectiva histórica e cristã, dar-se por uma irrelevante tentativa de certificar o nascimento de Cristo nesta data; o nascimento de Jesus, por antigas tradições, já teve abril, maio e até 6 de janeiro como prováveis datas; são mais fidedignas estas tradições, mas não irei ater-me a esse assunto aqui. Prosseguiremos falando do Natal: o dia 25 de dezembro tem suas raízes muito antigas, não com essa descrição que aqui lemos (25 de dezembro). Antes de o calendário ter a forma conhecida hoje, outras culturas definiam exatamente suas vidas na observância do "Caminho Solar", e alguns deuses eram associados ao sol, tal como as celebrações saturnais das civilizações gregas e romanas (observando-se na mitologia que saturno era o equivalente ao grego cronos). O solstício de inverno é o que está por trás de 25 de dezembro, pois é nessa época, no hemisfério norte, que se registra dias com menor exposição solar, mas que vai crescendo na medida em que os dias (ou meses) avançam. Muito antes de os romanos instituírem-se como império, essas celebrações aconteciam num tempo médio de 7 dias, aproximadamente, ocorrendo em nosso calendário atual, do dia 18 ao dia 24 de dezembro. Era uma fabulosa ciência de observação da natureza que regia costumes e concedia sentido às vidas daqueles povos que celebravam seus deuses. Impossível estender-me aqui, mas leiam atentamente, para quem não conhece as mitologias desses deuses, cronos e saturno, por exemplo, e observem suas histórias e as curiosas relações com fertilidade, terra, plantação, foice e nascimentos ou relações da trindade em nascimentos.
              Mas é só isso? Não! Ainda poderemos retroceder, mas não é esse o meu objetivo. Mas é curioso ler sobre a estrutura de Stonehenge, datada pelos historiadores como um monumento da "idade do bronze", que se localiza no sul da Inglaterra. Seus construtores, hábeis observadores do caminho do sol, fizeram-no, como se sabe hoje para demarcar o que chamamos solstício de inverno e de verão e outros fenômenos. Havia a celebração, mantida dentro da tradição do povo celta. Contudo, há documentação dos antigos historiadores do império romano sobre os druidas conhecerem bem o uso do monumento de Stonehenge, embora a antiguidade da tradição druida, que provavelmente evoluiu de outra tradição, na cultura celta, esteja sendo revista pelos historiadores. De qualquer forma, há mais ou menos 3.000 a.C., celebrações eram feitas em Stonehenge com fins diversos, envolvendo seus projetos de vida, agricultura e etc. Sabemos o quanto à essência do dia 25 de dezembro se projeta cada vez mais ao passado se nos aprofundarmos.
              Para concluir, não esqueçamos um fato histórico marcante: Na XVIII dinastia egípcia, nos anos de 1300 a.C., o faraó Akhenaton (Amen-Hotep IV ou na versão helenizada Amenófis IV), instituiu a adoração ao deus sol, criando o primeiro culto monoteísta até agora registrado na história. Sabemos que as observações astronômicas e do caminho do sol aplicados à agricultura eram, entre outros, importantes eventos que marcavam o modo de vida egípcio. As celebrações ao sol, mesmo após morte de Akhenaton, foram suprimidas pelo sacerdócio politeísta. No entanto, sobreviveram sutilmente e o culto se proliferou pelas culturas gregas e romanas. 
              O dia 25 de dezembro, o solstício de inverno, as celebrações referentes aos cultos naqueles períodos, a importância do evento de novo ciclo agrícola ou o fim do mesmo, o que de bom e ruim aconteceu nessas ocasiões são, ainda que eu não tenha aprofundado-me, os elementos da essência do que denominamos hoje de Natal. A cristianização das celebrações ocorridas em torno do solstício de inverno é o Natal como o conhecemos em nossos dias. Dizer que aquelas celebrações eram "pagãs" é olhar para elas sob ótica teológica cristã, apenas. Sensato seria vê-las como a verdadeira e mais plena fonte desses dias que antecedem o solstício (de verão) aqui para nós, e (de inverno) para quem vive no hemisfério norte, como uma fonte que nos unia aos processos naturais e mágicos, hoje substituídos por outros inúmeros elementos, um dos quais, inclui até mesmo um senhor um pouco acima do peso, vestido de exuberante vermelho que voa num trenó puxado por renas... 
              Tenho lido muitos afirmarem que os povos adoradores daqueles deuses antigos e suas celebrações pagãs eram primitivos... (Esboço um sorriso reticente nesse momento).
              Mas, chega! Como dizia o Senhor Spock, de Jornada nas Estrelas, "Vida longa e próspera". De minha parte: Boas Festas para todos.





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Ronaldo Honorio
Enviado por Ronaldo Honorio em 21/12/2008
Reeditado em 22/11/2018
Código do texto: T1346531
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