O NATAL DE CADA UM

Houve um tempo, em que eu achava o Natal, uma festa no sentido alegre desta palavra. Torcia para que os outros meses passassem rápidos, para que o dezembro chegasse e eu pudesse viver toda a euforia dessas festividades.

O Natal sempre foi para mim, o símbolo máximo da cristandade, de toda a humanidade na face da terra. Sem distinção de raça, classe social, cultura, cor ou religião. Acreditava eu, que todos estavam inseridos no contexto humanitário, como irmãos que somos, segundo o que aprendi nos preceitos religiosos.

Por ter nascido em um local onde todos participavam de certa maneira, do nosso dia-a-dia, das festas comunitárias, da partilha dos alimentos cultivados por pequenos agricultores da região, um local onde havia padrinhos, madrinhas, compadres, comadres e afilhados, há de convir à dificuldade que sinto até hoje, em aceitar a individualidade e o egoísmo como parceiros.

Prepararmos-nos para essas festividades, era usar a melhor vestimenta, para ir ao ato religioso, a missa do galo, circular sozinho ou acompanhado em torno do pavilhão da festa da padroeira local, visitar as barracas de cachorro-quente, brincar em rodas-gigantes, carrosséis e jogar conversa fora com os amigos ou arrematar um frango assado para saboreá-lo, juntos aos colegas.

Depois veio a época dos filhos: era uma correria para comprar os presentes, apanhar as cartinhas escritas por eles, e, postas nos sapatinhos para que o Papai Noel as apanhasse sobre a mesa da varanda. As noites de sonos que por vezes tínhamos de passar, aguardando com eles, que o Bom velhinho passasse para apanhá-las. Só quando não mais agüentavam o sono é que os apanhávamos colocando-os em seus aposentos. Aí, é que eu, o Papai Noel tão esperado, podia apanhar as cartas, para ir às compras nos dias seguintes.

Assim era a minha compreensão do Natal, até bem pouco tempo. Mas esse tempo passou, os amigos mudaram, os filhos cresceram. Então eu pude ver que o mundo não era tão pequeno; e que havia outras pessoas além da minha imaginação festiva e, que até hoje há crianças que sequer sabem que a lenda do Papai Noel existe.

Quem é esse Papai Noel que deixa seus filhos, crianças; sem brinquedos, sem alimentos, sem vestimentas, sem o aconchego de uma cama, para descansar das travessuras que realizam ao brincar por todo um dia? Quem é você, que satisfaz apenas alguns de seus filhos, crianças?

Não, o Natal já não é o mesmo para mim. Perdi a minha inocência depois que os meus filhos cresceram; e não gostaria de perder o amor pela vida e pelas coisas boas que ainda posso fazer. Podemos ser um braço desse Bom Velhinho. Ao invés de perguntarmos quem ele é; deveríamos perguntar: o que podemos fazer para minorar as condições dos filhos que não podem ter seus pais, embora os tenha, mas que não recebem sequer os cuidados devidos, e, que são de responsabilidade dos pais biológicos, e por ultimo dos governos que nada fazem, ou quase nada.

Tenhamos um ótimo Natal; fazendo com que a cada ano, um número menor, ou que nenhuma criança viva em completo abandono; nesse mundo construído para os habitantes racionais, que se dizem imagem e semelhança de Deus, segundo a Escritura. Embora alguns vivam em berços dourados nas mansões e palácios, enquanto outros irmãos vivem em estábulos e calçadas que lhes servem de repouso para o corpo surrado do cansaço, de sede e de fome.

E ainda há aqueles, que embora tendo tudo, dizem que a vida é um sofrimento. Bom Natal e prospero Ano Novo.

Rio, 21 de dezembro de 2008.

Feitosa dos Santos.